Antes, as barganhas partidárias e parlamentares com o Governo Federal eram tratadas nos gabinetes, em reuniões de líderes, e em audiências com ministros. Os dois lados do balcão negociavam convênios e emendas, com algumas reservas mínimas de pudor republicano.
Depois que o Congresso sequestrou o orçamento da União, a coisa degringolou ao ponto de Arhur Lira (PP-AL), presidente do sindicato dos interesses da Câmara, assumir, sem qualquer receio, o papel de porta voz da chantagem institucional.
E o coronel alagoano faz o serviço em plena sessão de abertura do ano Legislativo, diante de câmeras e holofotes. De peito estufado, como se estivesse a ler um discurso estadista, Lira cobra a fatura em protesto ao veto presidencial a R$ 5 bilhões em emendas. Na verdade, esbraveja contra a liberação de recursos que não passaram pelo seu bornal de capitão do mato.
Sob a liderança de Lira, o parlamento declinou do seu papel precípuo, desceu ao triste papel de bolsa de valores e abocanhou um aporte de quase 25% do orçamento para destinações às bases eleitorais, sem qualquer critério objetivo que não seja o combustível para a máquina de moer eleições. Quando não para outros fins ainda menos nobres.
Mas, o embaixador do parlamentarismo bandoleiro acha pouco, muito pouco. Quer mais e sempre mais. Do contrário, assentado na cadeira de presidente de uma Câmara de saudosa memória, vocifera ameaças ao presidente da vez. Como fez com Bolsonaro, como faz agora com Lula. Para nenhuma surpresa dos poderes e a passividade geral dos governados.
O primeiro ministro cangaceiro só tem razão quando exclama a plenos pulmões: “O orçamento é de todos”. Arthur deveria esclarecer isso a Lira. O orçamento pertence aos cidadãos brasileiros que, feito ovelhas mansas, ralam para gerar o que vem a ser devorado por famintas raposas.