Opinião: Nilvan Ferreira, entre a desistência e a resistência – Heron Cid
Opinião

Opinião: Nilvan Ferreira, entre a desistência e a resistência

5 de fevereiro de 2024 às 12h45 Por Heron Cid
Radialista está condenado a desistir em João Pessoa e a resistir na política

Se o PL da Paraíba tivesse um projeto partidário, não despejaria, sem aviso prévio, um quadro com a densidade eleitoral do radialista Nilvan Ferreira. Se o PL local tivesse mesmo identidade com o bolsonarismo, como diz e vende na praça, preservaria um dos mais alinhados líderes estaduais a Bolsonaro.

A questão, como se sabe, é outra. E nem no PL e nem em muitos outras legendas ditas e havidas de direita ou centro direita há espaço para aquele que empunhou ardorosamente essa bandeira nos últimos quatro anos.

Concordando ou não com suas ideias e posturas, é preciso admitir uma verdade. Ferreira arrombou, sem pedir licença, a porta de ferro da casa grande da política paraibana, cuja tradição não costuma reservar cômodos para perfis como o seu: homem de pele preta, origem humilde, sertanejo e radialista. A antítese do que, historicamente, se tem por aqui.

Gente como Nilvan incomoda bastante. Fora do script normal da cartilha das heranças familiares ou dos espólios financeiros, é como se o filho natural de Cajazeiras já tivesse ido longe demais. Cortar suas asas passa a ser um acordo informal do consórcio da política graúda, invisível aos olhos, mas palpável nos gestos.

Espremido entre interesses conflitantes e sem abrigo partidário de mínima visibilidade, Nilvan Ferreira foi obrigado a declinar da disputa em João Pessoa, território onde quase se elegeu prefeito em 2020 e em 2022, como candidato a governador, cometeu o atrevimento de vencer forças tradicionais nos municípios da região metropolitana da capital.

Realidade posta, restou-lhe dois caminhos: disputar vaga de vereador em João Pessoa, o que melhoraria sensivelmente o tempero dos debates numa Câmara de insossa atual legislatura. Ou migrar, de vez, para Santa Rita, território no qual venceu o primeiro turno de 2022 e onde tem chances reais de arrebatar seu primeiro mandato.

Sentenciado a desistir da eleição na cidade que o abrigou profissionalmente e o projetou na cena pública, Nilvan também está, por outro lado, igualmente condenado a resistir. Como ele, tantos outros precisam continuar quebrando as algemas e o ‘pacto de senhores’ que controla territórios políticos como capitanias, empurra os diferentes à senzala da exclusão e açoita no pelourinho do cancelamento os rebeldes do sistema.

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