(FORTALEZA-CE) – Um dia Benjamim lerá essa singela crônica. Hoje, no alvorecer dos seus oito aninhos, ainda engatinha na leitura, conquista a cada dia uma letra, juntando as palavras, com seu jeito particular de articular as sílabas e a contar os números, sua paixão.
Quando conseguir ler e escrever desenvoltamente poderá compreender e traduzir cada sentimento meu em textos registrados sobre a revolução que, sem saber, proporcionou a mim e sua “mamãe”.
Foi ela (sempre as mães!!!) quem primeiro percebeu os sinais de comportamentos atípicos. A cada nova descoberta, interrogações e medos. Impotência e lágrimas.
De lá pra cá, um mundo de adaptações. De nós com ele, dele conosco. Um assimilar diário, um aprendizado a cada instante. As explosões emocionais, ora de rompantes, ora de surpreendente afeto. Uma oscilação que pede serenidade e resignação.
Dos dois lados. Sempre.
É comum pais ensinando aos filhos. Com Benjamim, tudo se inverte. Aprendo com ele a olhar um mundo, a vida e as pessoas de forma revolucionária-mente diferente.
Pela luz dos seus ingênuos verdes olhos enxergo o colorido de outra perspectiva de ser, existir, ressignificar, respeitar e amar. Nos seus cachinhos dourados, me envolvo nesse seu universo tão azul quanto o mar que ama contemplar.
Não é romantizar o autismo. É compreendê-lo em todo seu mútuo desafio e ver que as crianças atípicas não precisam se adaptar ao “nosso mundo” e nem os típicos ao “mundo deles”. É só um mundo e somos todos – com nossas singularidades – partes dele.
Espero que quando meu Ben tiver maturidade e discernimento suficiente para ler e sentir essas palavras em toda sua inteireza, esse mundo seja um lugar muito melhor para todos nós. Extraordinariamente inclusivo e respeitoso.
E eu estarei, ombro a ombro, no seu travesseiro, olhando para o céu estrelado. Só que dessa vez, eu expectador atento e ele contando fluentemente a história do menino que viveu superando todos os limites que os adultos pensavam existir. E nesse dia eu quem sorrirei, porque veremos que nossos sonhos nunca foram só imaginação.