Mossoró (RN) – Recebi a notícia no carro e na estrada, enquanto assistia em família o espontâneo espetáculo do crepúsculo da tarde, em terras potiguares. A caminho do Ceará, para celebrar os oitos anos da vida de meu menino Benjamim, atravessou na pista a morte de um amigo. Fez-se silêncio e anoiteceu no meu coração.
Mirando no horizonte alaranjado contornado por serras, o dia e eu nos despedíamos de Wellington Alexandre de Farias. Na minha frente, além da direção e do astro rei, cenas rebobinavam o filme da vida na tela do asfalto.
De tudo que vivi ao seu lado na profissão de jornalista. Ele respeitado repórter, eu curioso estagiário na Assessoria de Imprensa da UFPB e do TRE. Depois, juntos nos microfones em três projetos diferentes. Sempre com a mesma e inflexível lealdade.
Com Wellington Farias se vai um dos últimos românticos da faculdade do jornalismo, onde soube ser aluno e professor. Era um rebelde por natureza, alegre e sonhador por vocação e um corajoso por instinto de sobrevivência no ambiente de pressões políticas e tensões econômicas.
Ninguém calou Wellington Farias. Nem o câncer. Nem a falta de dois rins. Na adversidade da doença, manteve-se de pé. Tocou seu Blog, se expressava e militava nas redes sociais. Se as forças do corpo faltavam, a resiliência da mente guerreava.
Wellington era leitor voraz. Por culpa dele, e ele nem sabe, conheci Gabriel Garcia Marquez. O Amor nos Tempos de Cólera, emprestado há tempos para minha companheira Marly Lúcio, foi o livro que caiu no meu colo e nunca consegui devolver, apesar de tanto planejar, nos últimos tempos. Era, como o dono, para ficar guardado em nós.
Amante de Serraria, sua Macondo, viveu montado em seu Rocinante imaginário na aventura de redações e nos estúdios, tentando mudar o mundo, como Dom Quixote. Um cavaleiro da palavra tão revolucionário quanto ingênuo. Cavalgou sobre injustiças, sempre com a espada da sua verdade erguida. Na lúcida loucura de não ter medo, nunca deixou que matassem suas utopias. Afinal, “a liberdade não é um pedaço de pão”.
Inspirado na personagem de Miguel de Cervantes, do jeito que deu, mudou o mundo. Em Serraria, sua pátria primeira e jamais esquecida, plantou música. A cada aluno que pagou para ensinar, proclamou sua revolução em acordes de cidadania. Por onde passou, elevou sua terra, “o centro do universo”. Trotou sobre vaidades e galopou sobre riquezas.
Depois da guerra contra os moinhos de ventos de sonhos e realidade, perto das seis badaladas do dia, na hora triunfal, o guerreiro descansou no compasso dos raios que se despedem para a lua chegar. Mas em qualquer cair da tarde, num dia desses, o incandescente fulgor do sol pode, de repente, nos fazer rever a imagem do nosso Dom Quixote de Serraria atravessando os portões da nostalgia só para dizer a Sancho Pança e a todos nós, com aquela coragem e sorriso todo seu: “O meu repouso é a batalha”!