O anúncio da opção pela gestão privada de serviços, que vai desde cemitérios à unidades de saúde, ampliou o fosso na relação de setores do PSB com a aliança do prefeito Cícero Lucena (PP), em João Pessoa. Nos bastidores, socialistas e parte do governo não disfarçam o constrangimento.
A interpretação é que a política prestes a ser adotada pelo aliado na capital contraria o pensamento do partido (de centro esquerda) sobre gestão dos serviços públicos e confronta as ações práticas desenvolvidas no modelo de gestão implantado pelo próprio governo João Azevêdo (PSB).
Foi justamente João quem revogou a a política de terceirização de saúde na Paraíba, rompeu com as organizações sociais e criou a Fundação PBSaúde, o que gerou melhores resultados a menores custos na administração hospitalar.
Conceitualmente, a escolha de Cícero, sobretudo na saúde e com saída à direita, gerou desconfortos na linha ideológica do PSB, sigla de centro esquerda. A medida lembra a tentativa do governo Bolsonaro, que abriu estudos para parcerias público-privada na atenção básica da saúde. Pelo desgaste, Bolsonaro revogou o decreto.
Via o então Ministério da Economia, a meta era conseguir investimentos privados para finalizar cerca de 4 mil unidades básicas de saúde inacabadas em todo o país e que consumiram R$ 1,7 bilhão de recursos do SUS. Retórica semelhante à que a administração municipal entabulou argumentando pela melhoria dos serviços.
O distanciamento conceitual sofre sequência de fatos. A tentativa de aterro da praia para alargamento da orla, a decisão do prefeito assinar ação conjunta com Ricardo Coutinho para conseguir uma pensão de R$ 31 mil, que o governo é, oficialmente, contrário, em manifestação expressa da Procuradoria Geral do Estado junto ao STF, se somam ao projeto de concessão de serviços à iniciativa privada.
Um novo abalo na saúde da aliança.