Contrariando o imenso acervo filosófico e a vasta bibliografia de auto ajuda, que trata desistência – via de regra – como ato de fraqueza, o poeta Caio Fernando de Abreu preferiu a contramão: “Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem”, escreveu.
No comentário postado aqui sobre a “Bolsa Família Vip”, o tal pedido de aposentadorias de ex-governadores e pensões de viúvas destes, o autor do Blog encerrou com um apelo: “Cabe um conselho republicano. Ainda dá tempo de os famosos autores desistirem da ação. Não por medo de perdê-la, mas pelo constrangimento de ganhá-la”.
Por razões óbvias, esperava-se que o gesto partisse de algum dos políticos em atividade, essencialmente mais cobrados e alvos do olhar da opinião pública e da aprovação do eleitor. Ledo engano. Veio da desembargadora Fátima Bezerra.
A magistrada renunciou e retirou, acertadamente, seu nome da lista dos reclamantes ao Supremo Tribunal Federal. A um só tempo, seguiu Caio Fernando de Abreu e a voz do bom senso.
Mesmo sem as implicações e o peso dos desgastes dos políticos, foi a primeira dos sete autores. Quem será o próximo? O prefeito Cícero Lucena (PP), o ex-governador Ricardo Coutinho (PT) ou o secretário Roberto Paulino (Republicanos)?
Da eternidade, o poeta já começou a esperar e contar: dou-lhe uma, dou-lhe duas…