Os filhos que nós devemos ter (A Crônica de Domingo) – Heron Cid
Crônicas

Os filhos que nós devemos ter (A Crônica de Domingo)

20 de agosto de 2023 às 12h48 Por Heron Cid

Toquinho e Vinicius de Moraes estavam na praia de Boa Viagem, no Recife (PE), numa dessas manhãs antes de um show. No apartamento, o violonista mostrou uma melodia e confessou o sonho de ser pai. Mais velho, Vinicius ouviu tudo, preferiu ficar, enquanto o parceiro se jogou no mar e no sol recifense.

“No mesmo dia, voltando da praia ao cair da tarde, encontrou Vinicius em prantos por haver concluído a letra de ‘O filho que eu quero ter’, uma das mais comoventes canções criadas pelos dois”, conta o livro Histórias de Canções – Toquinho –  de João Carlos Pecci e Wagner Homem.

Quando li essa passagem, anos atrás, me emocionei no leito, em silêncio. Quando depois ouvi a música, ainda mais. E na época, já era pai de Herla, José e Cleiperon. Nem sonhava que o jardim de minha descendência ainda seria florido, por Marly, com Benjamim e Daniel.

E tem sido assim toda as vezes que a ouço, novamente, porque nada, absolutamente nada, é capaz de tocar minha alma tanto quanto a alegria da paternidade, dom pelo qual Deus foi divina e abundantemente generoso comigo. São cinco indispensáveis companhias geradas em etapas distintas – e até conflitantes – da minha vida.

Um privilégio que me proporciona conviver aos 39 anos com todos os estágios da existência. A adulta de 19 anos, prestes a entrar na faculdade. Dois adolescentes de 14 anos e seus universos particulares em transição. Um menino de quase oito anos e seu planeta azul de vitórias autistas. Um bebê engatinhando primeiros passinhos da caminhada.

Diferentes em tudo, iguais nos cômodos dos meus afetos. Herla, sensível, amorosa, leitora. José, criativo, politizado e crítico. Cleiperon, apegado, pragmático e futurista inquieto. Benjamim, mercurial e enérgico sonhador. Daniel, dono de seis dentinhos e do sorriso mais ensolarado da via láctea.

Em cada um encontro um mundo, me perco num olhar sem palavras, até me achar inteiro em pedaços de feições, gestos e manias. São fatias de meu coração que pulsam no peito deles, batem fundo em mim e fundam o alicerce do sentido da existência.

Com toda essa autoridade numérica, aconselho aos amigos: tenham filhos! Eles são o ‘trabalho’ mais importante e recompensador da vida.  E um dia, ao vedar nossos olhos, eles é que nos ninarão “num acalanto de adeus”. Nessa hora, também sonharão com o filho que querem ter.

*Nota do Autor do Blog: A Crônica deste Domingo seria a do domingo de Dia dos Pais. Está atrasada em uma semana por culpa do pai que preferiu viver intensamente o seu dia com os filhos. Sem os quais, não haveria esse dia, essa crônica, nem mesmo esse pai…

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