Fui assistir a uma palestra do ator mexicano Edgar Vivar no Imagineland. Encontrei ‘Seu Barriga’ e reencontrei o menino que há em mim, trinta anos atrás, de olho arregalado na tela do SBT, naquele mesmo ritual cada vez que chegava da escola.
Sentado numa das cadeiras do Teatro Pedra do Reino, deixei um seriado inteiro passar na minha cabeça, enquanto Edgar contava histórias dos bastidores da vila criada pelo genial Roberto Bolaños.
Com muitos anos a mais e muitos quilos a menos, o médico Vivar já não é mais o mesmo. Eu, com filhos perfilados ao lado, também não.
Mas, tanto o ator quanto o telespectador carregavam na alma, em palavras e emoções, o que se viveu e nunca se apaga da memória e coração. “Isso, isso, isso”!
Edgar emocionado pelas lembranças dos companheiros que deram vida a Quico, Chiquinha, Seu Madruga, Dona Florinda, Nhonho, Dona Clotilde e um dos programas mais importantes da teledramaturgia mundial.
E eu comovido pela nostalgia do passado e pelo presente dos meus rebentos, fãs de telas de youtube e de influencers digitais. Eles quase nada sabem daquele tempo quando “ninguém tinha paciência comigo”.
“Sem querer querendo” levei-os de companhia. Prestaram pouca atenção no que Edgar Vivar conversava com o entrevistador. Se ligaram mais na tela do celular.
“Tá bom, eu não me irritei” e permiti que o pai deles mantivesse as vistas no palco e a mente viajando no tempo. Naquela tarde, a criança era eu. “Pois é, pois é, pois é”.
Antes de se despedir, o intérprete de Seu Barriga, revivendo imagens e experiências vividas com os amigos que embalaram gerações, deixou uma frase pra guardar: “A vida é para fazer fazer coisas bonitas”.
Automaticamente, virei de lado na direção dos meus filhos e – olhando marejado e fixo em seus olhos – repeti com a voz já embargada: “A vida é para fazer coisas bonitas”!
Um dia eles lembrarão. Um dia entenderão.