Antes o desgaste pontual do recuo do que a derrota conceitual permanente. Ao cancelar o projeto do aterro da faixa litorânea da cidade, o prefeito Cícero Lucena (PP) seguiu um velho e sábio conceito dado meio século atrás por Juscelino Kubitschek, para quem não se devia ter “compromisso com o erro”.
O debate começou atropelado. A intenção da obra foi manifesta antes sequer dos estudos e da sua contratação oficial. Foi o bastante para setores da política, da sociedade e da imprensa, entre os quais o autor do Blog, lançarem questionamentos sobre demanda e pertinência de intervenção tão impactante no meio ambiente e na paisagem da cidade.
Após a movimentação legítima da população e de análise de Tribunal de Contas do Estado e Ministério Público Federal, a Prefeitura voltou à estaca zero, anunciando a rescisão do contrato e o interesse em focar agora nas alternativas para contenção da erosão da Barreira do Cabo Branco, essa sim uma necessidade histórica que se arrasta por gestões seguidas, sem soluções dignas do nome.
A decisão de promover a “engorda” da praia, em toda sua extensão, do Bessa até o limite com o município do Conde, não era só um processo arriscado, por, até então, faltar lastro científico, diálogo com academia, mas, sobretudo, pelo caminho contra a maré do sentimento do cidadão de João Pessoa, majoritariamente fechado com o pacto informal de sustentabilidade e qualidade de vida da moradia na capital do verde da floresta e do azul do mar.
Venceram o bom senso da gestão e o senso de vigilância da cidadania pessoense. A ideia do aterro da praia está temporariamente enterrada. Para o governo municipal cabe a leitura política de que nem sempre recuar é perder. Nesse caso, retroceder é andar para frente. Por ora, as duas naturezas da cidade estão preservadas; a da praia e da sua vocação de cidade sustentável e diferenciada. Sem nenhuma aliança com o erro.