Uma nota nas redes sociais do tradicional e respeitado Lar da Providência é um grito de agonia. A maior e mais representativa instituição de abrigo de idosos em João Pessoa admite publicamente que respira (ainda) com ajuda de aparelhos.
Entidade sem fins lucrativos, mantida pela Ordem Saviniana, da Igreja Católica, o Lar cuida atualmente de 75 idosos. Na nota, a direção revela preocupação com a sua situação financeira e comunica redução gradativa de vagas.
E trata essa como uma das “primeiras medidas”. O texto não diz, mas a mais amarga de todas pode ser o iminente fechamento de suas portas, depois de mais de 100 anos de atividades ininterruptas em João Pessoa.
Se o Lar da Providência, instituição centenária e destino de muitas doações e atenções da sociedade, vive esse drama, o que pensar do quadro agonizante das demais casas acolhedoras de pessoas em situação de vulnerabilidade?
Estamos, portanto, diante de uma tragédia anunciada, se não houver intervenção imediata, um grande pacto público, e auxílio financeiro na veia do sistema de assistência social. Real, permanente, digno e proporcional.
O poder público, cuja política nessa área é tão vulnerável quanto seus assistidos, não dispõe de unidades próprias de amparo a idosos. Essa demanda depende exclusivamente da iniciativa cristã e humana do terceiro setor.
Sai muito mais em conta promover financiamento das vagas do que criar e manter estruturas próprias. Mesmo assim, Estado e municípios subvencionam, mal e aquém da importância, essas entidades, para quem disponibilizam orçamentos irrisórios diante do caráter prioritário do serviço.
Pergunta-se: cumprida desalentadora profecia e essas instituições, enfim, desfalecerem, para onde irão centenas de idosos e pessoas carentes de cuidados especiais, totalmente dependentes desse amparo social?
Até quando casas de assistência social continuarão substituindo um papel que é – por obrigação constitucional – do sistema público? E de chapéu na mão, como se estivessem a pedir favores, quando cobram direitos?
Quem promove caridade hoje é quem está precisando dela. E já é possível ouvir baixinho um pedido de socorro vindo de quartos e corredores. De vozes cansadas – do tempo e da desídia – que só reivindicam um último direito; terminar a vida com dignidade.