No ‘bolsonarismo’ – sectarismo político a ser estudado – não há meio termo. Nele, existe um parâmetro, único, exclusivo e suficiente; a vontade imperial do capitão Jair Bolsonaro. Quem ousou questionar ou ter opinião própria, se deu mal. Os exemplos estão aí.
Qualquer indício ou menor sinal de personalidade própria é vista e encarada como insubordinação, traição, deslealdade, adjetivos imperdoáveis para uma massa que faz do ex-presidente um ídolo absoluto, que acerta até quando erra.
Nilvan Ferreira, Wallber Virgolino e Cabo Gilberto acabam de entrar num beco estreito. E muito arriscado. Eles formalizaram o que chamam de ‘triunvirato’, uma resistência à decisão oficial e pública de Bolsonaro e do PL nacional, com aval da direção estadual, pela candidatura de Marcelo Queiroga à Prefeitura de João Pessoa.
A escolha por Queiroga, a um ano das convenções, é autoritária e cartorial. Do ponto de vista partidário, atropela, sem pena e dó, o presidente municipal do PL, deputado Cabo Gilberto, cuja autoridade de conduzir o processo na capital foi reduzida a pó. Do ponto de vista político, diminui e fragiliza Nilvan Ferreira, candidato natural em João Pessoa da autointitulada direita. No jogo pragmático do PL, os três entraram numa guerra perdida.
Uma batalha que bota o trio para se equilibrar em melindroso malabarismo. Rugem contra o deputado Wellington Roberto e o ministro Marcelo Queiroga, mas miam, fino e baixo, contra Bolsonaro, o principal fiador do encaminhamento, com direito a ficha abonada, discursos e vídeos na sede nacional do PL. Para não deixar dúvidas.
Ferreira, Virgolino e Gilberto acertam em manifestar a discordância, demarcar território e tentar manter sua ala política debaixo das asas, mas pisam em ovos para maquiar o óbvio. E o óbvio é que eles experimentam pela primeira vez o amargo de abrir dissidência e peitar Bolsonaro, a quem, no máximo, só podem acusar de ter sido ‘induzido’ a erro.
Neste momento, Nilvan está para Bolsonaro em 2024 como Sérgio Queiroz esteve em 2022. Pode viver o mesmo constrangimento de ter que brigar com os fatos. Se apresentar como o candidato do ex-presidente tendo que assisti-lo fazer campanha, no rádio, TV e redes sociais, para outro.
Wallber, Gilberto e Nilvan sabem mais do que ninguém o terreno que estão pisando porque são beneficiários da sua fertilidade radical. Devem cuidar e calibrar as declarações. Do contrário, correm o risco de daqui a pouco serem chamados de ‘comunistas’. E por quem, até hoje, são seus seguidores pela fidelidade cega ao representante supremo da ‘direita’. Bolsonaro acima de todos!