A boca fala do que o coração está cheio. É bíblico. Em entrevista ao jornalista Luís Tôrres, da TV Arapuan, o deputado federal Romero Rodrigues (Podemos) abriu boca e coração.
Sóbrio, como é do seu perfil, Romero não precisou falar alto para gritar coisas que estavam guardadas. Ou espinhas que engoliu ao custo de feridas na garganta.
Resgatou o processo eleitoral de 2022, quando por duas vezes teve a chance de ser candidato ao governo. Numa sofreu implícito boicote, na outra – perto das convenções – ele próprio declinou, após consultas familiares.
Mas, no final das contas, faltou, no sentimento de Romero, “mais solidariedade” levando ao que hoje – distante do fato – considera “um erro”: não ter disputado o governo.
O desabafo maior de Rodrigues, todavia, está embutido em uma frase, fruto das lições do que viveu e testemunhou dentro do seu grupo.
“Eu vou conversar com todo mundo (para 2026). Todo mundo pode conversar com todo mundo, só não pode Romero? Eles vão e nem combina, por que só eu sou impossibilitado disso?”
Romero não disse, mas pela sua cabeça pode ter flutuado fatos de passado recente e presente latente.
Em 2010, o então ex-governador Cássio Cunha Lima se juntou a um rival, Ricardo Coutinho, inimigo figadal do seu aliado de longas datas, Cícero Lucena.
Em 2014, o PSDB compôs chapa com Wilson Santiago, que, pouco antes, havia sequestrado um ano de mandato do senador de Cássio. Tirando a vaga e o direito natural de Cícero, do mesmo partido, disputar a reeleição.
Em 2018, Cássio quis fazer uma aliança com o PMDB, de José Maranhão, que, ao fim e ao cabo, declinou e se lançou à disputa ao governo.
Em 2022, houve a aliança branca, desde o primeiro turno, entre o PSDB e Veneziano Vital (MDB), histórico adversário em Campina Grande. Desafeto de Romero.
Essa mesma relação será consumada, formalmente e no primeiro turno, em 2024, pelo prefeito Bruno Cunha Lima (PSD) com o senador Veneziano, na Rainha da Borborema.
Só Cícero, no passado com Maranhão, e Romero, no presente, especialmente em 2022 com João Azevêdo, ou outros aliados não podem conversar e formar chapas com adversários?
Romero falou com o coração. E talvez falou por muitas bocas.