Não adianta tapar o sol com os dedos, como alertou recentemente o presidente do Lacalle Pou. Pousando o pensamento na terra onde o astro rei nasce primeiro, a frase serve bem para o prefeito Cícero Lucena e o PSB de João Pessoa.
Mesmo com muitas mãos estiradas ao alto para evitar a exposição, os raios insistem em revelar um desconforto mútuo entre os dois lados dessa moeda.
O prefeito quer e cobra o engajamento total do partido do governador João Azevêdo (PSB) no projeto de reeleição, em 2024. Até aqui, tem o mais importante: a palavra e a disposição do líder da legenda.
Mas Cícero espera mais. Ressente-se da falta da reverberação dessa intenção de João na base do partido. Cada vez que vê um movimento protagonista do PSB adota posição reativa, sem esconder certa dose de insatisfação.
Já o chão da fábrica da sigla também se queixa. Da falta de espaços estratégicos na gestão à falta de sintonia em políticas públicas e modelo de governo. Considera cartorial a postura de Cícero com a legenda. E o PSB não é um partido, por natureza, adestrado a comandos verticais. Pela sua praxe, é afeito a construções.
A declaração recente do gestor na TV Arapuan aumentou a inquietação. Ao exortar o termo obediência, Lucena mexeu com os brios da direção do PSB, especialmente do jovem e arejado Tibério Limeira, fio condutor da nova fase do partido em João Pessoa.
Limeira se deu ao direito de dizer que no PSB as coisas não são tratadas na base do quero, posso e mando, mas no diálogo e convencimento. Em outras palavras, delimitou outro tipo de tratamento e relação.
O formato da aliança dá sinais que expirou e carece de reciclagem. O que exige dos dois lados capacidade de readaptação e disposição para sentar, conversar e explorar as convergências. Porque as divergências já estão aí para todo mundo ver.
Com a clareza do sol do meio dia, Cícero está insatisfeito com a linha adotada pelo partido de João na capital. E muitos dedos estão levantados no PSB para dizer que a recíproca é verdadeira.