O desabafo de Flávio José, em pleno palco do São João de Campina Grande, é um grito de alerta; no geral, o forró tradicional agoniza na sua grande vitrine, o mês de junho. Mas, essa é uma faísca de uma fogueira muito maior.
Os modernos tempos transformaram – ou seria reduziram? – uma tradicional festa cultural em festival de sucessos momentâneos, fruto do apelo midiático e da lei do mercado musical.
Na conciliação entre ritmo original e atrações da indústria do entretenimento, a arte genuinamente nordestina tem levado a pior. A nota fica fora do tom e a sanfona por trás da cortina.
Com a privatização dos eventos – o que é correto -, as empresas focaram nos lucros – o que é legítimo – e passam a atender o que, no seu juízo estratégico – é comprado pelo público, inclinado a consumir as produções da moda.
Há que se fazer, porém, uma ponderação. Diferente da iniciativa privada, o poder público tem responsabilidade social e cultural e dever de incentivo, fomento, valorização e divulgação das raízes de identidade regional.
O que não será resolvido somente por programação de São João. Começa da base, inclusive da formação nas escolas, passa pelas políticas culturais e até playlist de nossas emissoras de rádio e TV.
A preservação da cultura do São João é um pacto que envolve sociedade, instituições, gestões e empresariado. Não será por imposição à plateia, mas também não pode morrer por omissão de quem tem dever de afirmação.
Porque, do jeito que vai, os eventos de São João patrocinados pelo poder público vão chegar ao ponto de ter todos os ritmos, inclusive o forró. Quando deve ser o contrário. Nessa festa que exalta nossa identidade, a música autêntica não pode desfilar como alegoria. O forró é o enredo.