Nem sei seu nome. Queimado do sol nos sinais de trânsito, esse homem exibe uma placa. É um dos seus quase 7 milhões de compatriotas que deixaram a Venezuela perseguidos pela fome e por uma ditadura que não consegue prover o básico aos seus cidadãos.
Na conversa rápida na janela do carro, ele confessa que está há um ano em João Pessoa, a capital da Paraíba. Cinco anos perambulando pelo Brasil em busca de pão e dignidade negada pela sua nação mãe. Madrasta.
“Preciso de ajuda para minha família na Venezuela, que está passando muita fome”, anuncia no seu cartão no peito dolorido de saudade, corroído pela desesperança de quem sabe nunca mais poder voltar e rever seus amores.
Esse quadro não é uma “narrativa”, como tentou minimizar Lula, o presidente do Brasil que acolheu cerca de 500 mil expatriados. Essa é uma realidade – nua e crua – gerada pelo desgoverno da ditadura de Nicolás Maduro, um tirano que se mantém há dez anos no poder sufocando adversários com todo tipo de violência e condenando sua gente à miséria.
E uma verdade não pode ser escondida tapando o sol com o dedo, como denunciou, em tempo, o presidente do Uruguai. Essa realidade está diante dos nossos olhos, muito mais clara e eloquente do que discursos de compadrios políticos, adornados por cortinas ideológicas. Dê se o nome do que se é: ditadura! Aos venezuelanos, nossas desculpas. Perdoa-o, ele não sabe o que diz…
