Antes de assumir o Planalto, pela terceira vez, o então presidente eleito Lula da Silva (PT) lapidou uma bela frase, presumivelmente dirigida para o seu entorno de assessores e conselheiros.
“Vou dizer em alto e bom som: nós não precisamos de puxa-sacos. Um governo não precisa de tapinha nas costas. Um governo tem que ser cobrado todo santo dia”.
Cinco meses se passaram e, ao que tudo indica, ninguém ousou seguir o conselho do chefe. Nem dentro do governo e nem muito menos na combativa chamada esquerda brasileira.
À exceção de Ciro Gomes (PDT) – sempre Ciro! -, só há louvações messiânicas, reprises dos governos I e II de Lula, nenhuma mísera autocrítica, o que, na prática, se converte em certo autoritarismo político, semelhante ao pregado sob Bolsonaro, que repelia tudo que não fosse espelho ou veneração.
Famoso marqueteiro político, João Santana trabalhou com Lula e Dilma. Tem cacife suficiente para também dar conselhos.
Em entrevista à Folha, Santana fez lúcida análise sobre Lula III e condenou a subserviência dos aliados do novo governo: “Olha minha gente, não vamos criticar o Lula, porque isso é fortalecer Bolsonaro, é correr um risco. Dizer isso é um absurdo, e um mal sem tamanho para o Lula e para a democracia”.
João fez um alerta. Vincular a sobrevivência do sistema democrático ao bom desempenho de um indivíduo é já de antemão apregoar sua fragilidade.
“Para quem quer ajudar Lula a fazer um bom governo – e eu estou entre eles, jamais quero que o Lula fracasse e que ocorra um retrocesso – a coisa melhor a fazer é criticá-lo”, adverte.
Lula lá atrás já reivindicava críticos no lugar de puxa-sacos. Até aqui, segue sem ser atendido. Nem por uns e nem por outros.