O fel e o mel de Rita Lee (Por Heron Cid) – Heron Cid
Crônicas

O fel e o mel de Rita Lee (Por Heron Cid)

9 de maio de 2023 às 14h20 Por Heron Cid

“Ela não foi um bom exemplo, mas era gente boa”. A frase resume com tom muito peculiar a definição da artista de si mesma. Nada mais Rita Lee.

Cantora de personalidade, compositora inspirada, dominadora dos palcos e da cena, a roqueira escreveu – com versos e acordes – página viva da história da Música Popular Brasileira.

Se foi embaixatriz autêntica do rock, também soube se fazer uma cantora de baladas românticas. Com sua afinação singular marcou muitos sucessos no rádio e nos corações.

“Bwana”, uma tradução de sua relação com Roberto, seu companheiro de uma vida, a sensual “Mania de Você”, o perfil estabanado de idas e vindas em “Desculpe o Auê”, ou simplesmente a natureza libertária em “Baila Comigo”.

Mas Rita se afirmou, sobretudo, transgressora. Na vida, com sua incursão pelo porão tenebroso das drogas e vícios. “Lança, menina, lança todo esse perfume”, retratou.

E na atitude política de contestação, especialmente na ditadura militar do Brasil. “Governadores, Deputados, Vereadores/ Saqueando bancos e bancando defensores”, criticou em “Arrombou o Cofre”.

No seu agitado passeio musical foi de “Ovelha Negra”, uma espécie de autobiofrafia musicada, à interpretação angelical de “José”, a saga discreta do pai de Jesus Cristo, que quase ninguém cantou.

Rita foi isso, eclética, diversa, divertida. Era fundo de poço nas crises de dependência, era grande na sua arte e livre no seu humor carregado de ironia e capacidade única de rir do espelho.

Uma mulher visceral. Amarga e doce. Intensa. No som, na poesia, na vida, e na morte.

“Se Deus quiser
Um dia eu morro bem velha
Na hora H, quando a bomba estourar
Quero ver da janela
E entrar no pacote de camarote”

Baila Comigo

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