Marizópolis, a minha Macondo (Por Heron Cid) – Heron Cid
Crônicas

Marizópolis, a minha Macondo (Por Heron Cid)

29 de abril de 2023 às 09h32 Por Heron Cid

Macondo é a cidade imaginária de Gabriel García Márquez. Ela foi edificada nas paredes da memória  do que Gabo viveu na infância e adolescência na pequena vila onde cresceu no interior da Colômbia profunda.

As histórias, os saberes, os temperos, os tipos humanos, os cheiros e toda essa atmosfera impregnada em sua existência determinaram sua personalidade e imprimiram nas páginas dos seus livros o realismo fantástico que criou.

Em “Cem Anos de Solidão”, o consagrado autor traz para as cenas personagens inspirados em familiares e pessoas com quem conviveu. Espalha as histórias mirabolantes dos avós, contadas com natural e assombroso ar de verdade.

Por que muitos homens podem ganhar o mundo, ter milhares experiências, como García Márquez, mas continuam ligados pelo umbigo materno ao chão de onde foram brotados?

Difícil explicar com palavras o que só se consegue traduzir pelos poros vivos das primeiras descobertas. Em alguns determinados seres humanos essa relação é tão visceral que foge a qualquer lógica racional.

Sou desses. Aqui estou hoje em Marizópolis, entre meus irmãos de berço afetivo, beijando minha terra e festejando – com a simples presença – seus 29 anos de emancipação. Confesso, não há um só dia em que – mesmo longe fisicamente – não viaje nos pensamentos para cá.

Muitas das minhas expressões no cotidiano são frases e palavras que ouvi entre os quartos da casa número 18 da rua Ana Rocha ou que aprendi com os amigos da mesma idade ou os mais velhos do meu tempo. De quando em vez me pego repetindo saberes de minha avó, adágios de minha mãe. Coisas de Marizópolis.

Ou até mesmo, na contramão dos nativos da capital, vibrando com a chuva em João Pessoa. Como se estivesse chovendo na árida terra do meu tempo de correr pelas ruas de pés descalços e na minha frente só vento e as gotas de emoção nas faces.

Quando percebe minha “viagem”, ou quando não aguenta mais me ouvir falando, lembrando, preocupado, ligando, gastando tempo ou do nada, sem razão e sem porquê, falando de assuntos de Marizópolis, minha mulher Marly se inquieta.

Como fazendo um apelo por atenção ou implorando-me a aterrissar na realidade, ela sussurra: “Eu queria entender esse seu amor por Marizópolis”. Do outro lado, suspiro: “Eu também”! No fundo, todo mundo tem a sua Macondo.

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