Vira e mexe, a política surpreende em suas reviravoltas. São Bento, no sertão paraibano, com a aliança do ex-deputado Márcio Roberto (Republicanos) e o deputado estadual Galego Souza, ferrenhos adversários, está aí para provar. E para mostrar que os interesses locais de poder se sobrepõem a qualquer rivalidade.
A união de dois caciques políticos foi calculada como estratégia de sobrevivência e, certamente, engendrada com o propósito de liquidar a fatura da sucessão municipal de 2024. No senso comum apressado, seria uma soma tão matemática quanto imbatível para desbancar o prefeito Jarques Lúcio (PSB), nova liderança do município.
Não é o que mostram as estatísticas inéditas captadas pelo Instituto Data Qualyt, de Campina Grande, divulgadas pelo Portal MaisPB e programa Hora H, da Rede Mais Rádio. A pesquisa revela que apenas 31,3% dos eleitores da cidade aprovam a reconciliação política de Márcio e Galego e 52,6% reprovam a união.
O Data Qualyt perguntou qual dos três (Márcio, Galego e Jarques) fazem a melhor gestão pública: 64,3% preferem o modelo do atual prefeito do que a forma de governar dos dois ex-prefeitos agora aliados. No nível de confiança, o jovem gestor também bate os velhos líderes políticos. Jarques é mais confiável para 62,5% dos entrevistados, 15,1% confiam mais em Galego Souza (PP) e 9,3% creditam a Márcio o título de maior confiabilidade de São Bento.
Ao testar o potencial de transferência de votos, a pesquisa constatou que 60,1% dos entrevistados admitem votar no candidato a ser apoiado pelo prefeito, enquanto o candidato a ser apresentado pelo grupo agora reunido de Márcio e Galego enfrenta 41,6% de rejeição, se a eleição fosse hoje.
Os números demarcam dois pontos, de forma clara: mesmo sem apoio dos grupos tradicionais, Jarques Lúcio é o grande cabo eleitoral da sua sucessão, e a aliança entre Galego e Márcio sofre forte resistência de parte significativa do eleitorado.
Qual a lição fica? A maior delas ensina que nem todos os acordos firmados entre poucos, nos ambientes privados, sofisticados e regados a doses de whisky, caem bem na garganta do eleitor lá na esquina. Tem que combinar com o povo. E o povo, igual aos políticos, também costuma surpreender. Uma lição para além das divisas de São Bento.