De mãos dadas com dona Marizete, senti pela primeira vez a atmosfera da cidade. Arborizadas e de paisagens verdes em pleno sertão árido, as ruas de Catolé do Rocha ficaram nas paredes da minha memória desde os nove anos de idade, quando o menino de saúde frágil foi para casa de uma prima se tratar de uma de suas pneumonias de infância.
Já rapaz feito, voltei. Dessa vez, para prestar vestibular no campus da UEPB. Reencontrei a cidade de aura diferenciada e, na primeira viagem sozinho na vida, andei como um pássaro pela bucólica praça Sergio Maia. No centro, entre lojas e vitrines, fiz um passeio nas asas da sensação de liberdade daquele itinerário.
Ainda recordo o sabor do restaurante da esquina, e do dinheirinho contado para as refeições nos dois dias de provas, do sentimento de emancipação de se hospedar com a namorada no hotel que abrigava os vestibulandos vindos de todos os cantos e do aroma suave no alvorecer da faculdade formigada de estudantes cheios de tensão.
Anos mais tarde, miro meu olhar na torre da Igreja dos Remédios. Contemplo a beleza da arquitetura por dentro e fico hipnotizado com uma das mais belas cenas que vi. De joelhos, um devoto velho homem olhando para o centro do altar sem uma palavra na boca, mas com toda a fé do mundos nos olhos erguidos ao altar. Como vendo o céu.
Era novo regresso para novas emoções. O reencontro nos estúdios da Rádio Independência FM, que um dia também foram do radialista José Maria Madrid, meu saudoso pai, antes de começar presencialmente a Hora H, programa que me mantém conectado todo dia com as ondas de Catolé, faz pousar em minhas mãos um quadro com digitais do tempo.
Uma cópia da carteira de trabalho assinada pelo meu pai no contrato de trabalho da emissora de doutor Francisco Evangelista, três décadas antes. Impossível segurar as lágrimas nesse ambiente transcendental que me mostra a força divina conspirando e encontrando um jeito de colocar Catolé no meu caminho, sem pedir licença.
Essa relação, inexplicável pelas palavras, justificada somente pelo universo, se transportou para o documental. A digna Câmara de Catolé do Rocha fez desse afeto um compromisso de honra ao me privilegiar com o título de cidadão catoleense. De autoria do decano vereador Geraldo Lima, a distinção entrelaçou de vez meu destino com o brasão dessa cidade. Como mãe, Catolé me adotou. À sua casa voltarei para abraçá-la, como filho. Agora registrado.