Antes tarde do que nunca. A crise de credibilidade provocada pelo festival de suspeições de juízes escalados para julgar as ações da Operação Calvário subiu até o andar de cima.
Na sessão do Pleno do Tribunal de Justiça, desembargadores expressaram, enfim, o incômodo com os julgamentos populares sobre a falta de julgamento e o corpo fora de mais de uma dezena de magistrados.
O desembargador Márcio Murilo cobrou o andamento da criação da vara especializada de organizações criminosas, iniciativa do então presidente Saulo Benevides e cuja tramitação cochila na Assembleia.
O desembargador José Ricardo Porto sugeriu contato e tratativas com o presidente da Casa, Adriano Galdino, a quem elogiou pela sensibilidade e acessibilidade. Sugestão acatada pelo presidente João Benedito.
Mas partiu do próprio relator da Operação Calvário, desembargador Ricardo Vital, o corte na ferida e a sentença precisa para classificar o efeito cascata que arranha, consideravelmente, a credibilidade do judiciário paraibano.
“A situação é vergonhosa”, cravou. “Pronto e ponto”, acrescentou, em tom de revolta, reproduzindo, consciente ou inconscientemente, a indignação e interrogação coletiva da população frente à esdrúxula realidade.
De fato, a Assembleia deve explicação, tramitação e votação. Todavia, o projeto em si não garante em suas letras a tal “super estrutura” e não dá para achar que o elixir do problema será a criação da vara especializada.
Sabe por que? O TJ tem varas criminais e de entorpecentes que julgam pesadas e perigosas organizações criminais, envolvidas com mortes e tráfico. Não consta até aqui nenhum juiz fugindo da insalubre tarefa por falta de estrutura.
O que fatalmente deixa no ar a incômoda sensação de que o receio em questão tem outra natureza e levanta suspeita sobre as suspeições. Até que o Tribunal prove o contrário.