Ônibus deixam de circular em Natal (RN). As empresas temem novos ataques e incêndios. Até postos policiais foram incinerados. No conflito entre facções e forças de segurança, os cidadãos temem pela vida. E os bandidos nada temem.
Tanto não temem que, mesmo com a chegada de homens da força nacional de segurança, a ação marginal segue e mantém a capital potiguar em campo de guerra. Ruas desertas e comércio fechado.
A crise de segurança que abate, mais uma vez, o Rio Grande do Norte, é a amostra com fogo, cinza, destruição e medo da existência de um estado paralelo em vigor no Brasil.
Em maior ou menor proporção, é o que se vê país afora. Estados, capitais e cidades convivem sob o signo de um poder clandestino. É o que, ousadamente, autoriza entrada e saída em comunidades. Implanta toque de recolher e sentencia o que abre e o que fecha.
É assim nas capitais. Tem sido assim em pequenas cidades do interior, onde a ‘autoridade’ dos bandidos e seus territórios foram reconhecidas. E o pior, o cenário caótico vem sendo naturalizado.
Chefes do tráficos ditam quem e quantos devem morrer e, ao seu modo, estipulam até a oscilação das estatísticas policiais. A depender se o Estado oficial atrapalha ou colabora com seus interesses econômicos.
Quando o próprio estado brasileiro assume que os ataques, como os de Natal, são orientados direto dos presídios, alguns de “segurança máxima”, estamos diante da admissão tácita da falência do sistema carcerário e do controle da forças policiais.
Se os bandidos ditam as regras até no perímetro do cárcere, onde estão sob vigilância e responsabilidade do Estado, pelo menos em tese, o que não podem fazer aqui de fora?
E nesse jogo de aparências, a ordem se inverte. Na cadeia os presos estão soltos para agir e na rua o cidadão livre está preso na sua impotência.