Dia Internacional da Mulher: há o que comemorar? (Por Renan Paes Félix) – Heron Cid
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Dia Internacional da Mulher: há o que comemorar? (Por Renan Paes Félix)

8 de março de 2023 às 13h58 Por Heron Cid
Movimento no Rio de Janeiro "El violador es tu"(Foto: Zo Guimarães/FolhaPress)

Renan Paes Félix, procurador da República na Paraíba, enviou artigo ao Blog sobre o Dia Internacional da Mulher. Pela importância do tema, pela relevância do remetente, cravo abaixo a reflexão. Confira!

Hoje é mais um “8 de março”, data na qual é comemorado o dia internacional da mulher. Fazemos homenagens e damos os “parabéns” às nossas esposas, mães, amigas, colegas de trabalho, funcionárias, vizinhas. Entretanto, muito mais relevante que parabenizar é utilizarmos a ocasião para refletir: há o que comemorar? Ou precisamos ainda avançar muito como sociedade que respeita e assegura dignidade às mulheres?

Ne semana passada, no último dia 3 de março, eu levantei de madrugada, por volta de 2h da manhã. Estava no Ceará e precisava pegar um voo no aeroporto de Juazeiro do Norte nas primeiras horas da manhã, para retornar à minha casa após uma semana na cidade.  Enquanto me deslocava ao aeroporto, a poucos quilômetros de distância, naquela mesma hora, naquela mesma cidade, mais uma mulher perdia a sua vida por questões banais.

O nome dela era Yanny Brena. Uma jovem médica, no início da juventude, com 26 anos de idade, que exercia o cargo de vereadora e Presidente da Câmara Municipal de Juazeiro do Norte. Tinha toda uma vida pela frente. Ocupava um cargo de destaque no parlamento cearense, onde era uma voz relevante para a sociedade local, inclusive para defender a dignidade das mulheres.

Em 2020, havia sido a segunda vereadora mais votada no município. Ironicamente, ela utilizava a sua posição política para ajudar a montar um órgão em defesa da mulher em Juazeiro do Norte, a Procuradoria da Mulher, com o objetivo de auxiliar na denúncia de crimes contra as mulheres e acompanhar projetos que visem a promoção da igualdade de gênero.

Infelizmente, Yanny não vai acompanhar a solenidade de inauguração da Procuradoria da Mulher, pois a sua vida foi ceifada no último dia 3 de março de 2023. Todo o futuro que ela tinha pela frente foi injustamente excluído, por obra do egoísmo mais vil. As investigações ainda prosseguem, mas, até o momento, os indícios são de que ela teria sido assassinada pelo então namorado, que, em seguida, tirou a própria vida. Há relatos na imprensa de que Yanny teria terminado o namoro com o empresário Rickson Pinto poucos dias antes de o casal ser encontrado morto na residência dela.

Quem o homem pensa que é ou que poder imagina que tem para cogitar tirar a vida de uma mulher por causa de um relacionamento? Yanny só merecia viver se atendesse aos caprichos de seu namorado? A dignidade da mulher vai muito além disso. Ela precisa ser valorizada, respeitada e digna de honra, não importa o que fale, o que pense, como se vista ou que decisões tome a respeito de sua vida e de seus relacionamentos. Repito: há o que comemorar na data de hoje? Quando iremos superar essa barbárie, essa geração de alguns homens que não honram as calças que vestem, que desejam impor a sua vontade e seus caprichos pela força ou violência? A superioridade física do homem deve ser usada apenas para proteção da mulher. Os meninos precisam aprender isso desde a mais tenra idade, como um dogma a ser jamais violado.

Costumo levar os meus filhos à escola pela manhã escutando o rádio. Hoje ouvi relatos das brilhantes jornalistas da BandNews FM, Carla Bigatto e Sheila Magalhães. Elas compartilharam histórias pessoais de quando eram adolescentes e sofreram assédio nas ruas, indo à escola, à ginástica, dentro do ônibus, no metrô. Todos os dias tais histórias se repetem. Traumas que, muitas vezes, as mulheres carregam consigo e que ficam guardados a vida inteira.
Que não apenas no dia 8 de março, mas que a cada dia possamos não simplesmente parabenizar as mulheres, mas passar a respeitá-las, como de fato elas merecem. Que Yanny Brena e tantas outras vítimas não sejam esquecidas, e que possamos nos educar enquanto sociedade para aprender a valorizar e conferir a merecida dignidade a todas as mulheres.

*Renan Paes Félix
Procurador da República na Paraíba
Pai, filho e marido

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