A audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa já cumpriu, de cara, um importante propósito. Tirou das quatro paredes burocráticas a intenção de aterro de trechos da orla marítima de João Pessoa e a trouxe para o seu ambiente natural: o debate público.
A Assembleia fez sua parte e ocupou um vácuo deixado pela omissão da Câmara Municipal, onde a discussão, mais cedo ou mais tarde, terá que desembocar. Inevitavelmente.
Pela primeira vez, especialistas, ambientalistas, estudiosos e sociedade civil organizada se debruçaram sobre o tema. A preocupação é latente, o receio é gritante e a oposição à proposta é evidente. E não surpreende.
Na audiência, a Prefeitura mudou o tom. E acertou. Saiu da intransigência e do incômodo com as críticas para a tolerância com o contraditório. Representada pelo secretário Wellison Silveira, do Meio Ambiente, a gestão adotou positiva postura de abertura de diálogo e moderação. É o mínimo que se espera.
Somente no debate aprofundado e amplo, acompanhado de estudos sérios, rigorosos e criteriosos, e com a participação social e cidadã, o prefeito Cícero Lucena pode convencer a cidade da necessidade, viabilidade e prioridade da milionária intervenção e de seu formato.
E, acima de tudo, convencer que a obra é de interesse público, não demanda empresarial e econômica. Ou ter a humildade de ser convencido do contrário.
A audiência serviu para deixar claro, como a luz do primeiro sol das Américas, que o aterro da praia para fins de alargamento estético e especulação imobiliária não é uma iniciativa que o pessoense ficará alheio, inerte e passivo.
Entre o interesse público e o privado, João Pessoa já deu seu primeiro recado sobre qual lado fica.