Opinião: o plebiscito que João Pessoa precisa é outro – Heron Cid
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Opinião: o plebiscito que João Pessoa precisa é outro

28 de fevereiro de 2023 às 13h22 Por Heron Cid
Plebiscito conferiria ao prefeito Cícero Lucena duplo triunfo: o de convencer a cidade e o de fazer uma obra legitimada

Se por acaso vier a ser candidato em 2024, e tem o legítimo direito se quiser, o talentoso advogado Raoni Vita acertou na estratégia. Ao protocolar pedido de plebiscito para o pessoense se posicionar sobre o nome de João Pessoa, batismo do distante 1930, o jurista exumou um debate expirado pela história há oito décadas, mas conquistou generosa mídia espontânea.

Caso a provocação – no bom sentido – tenha sido estritamente jurídica, já temos o que agradecer a Vita. Ele deu preciosa contribuição ao suscitar o recurso do plebiscito. Esse é o remédio constitucional mais plural para uma população se manifestar sobre assuntos complexos e decidir democraticamente sobre questões que afetam a vida das pessoas, a cidadania e o bem estar coletivo.

De preferência, para polêmicas do presente, com consequências para o futuro. Porque, em alguns casos, e este do nome da cidade parece um deles, o “passado é uma roupa que não nos serve mais”, como filosofava Belchior. Não dá pra reescrever a história, ainda que se concorde com o equívoco da mudança, produzida sob o calor da emoção e da agitação política de quem mandava no estado naquela época.

Por ironia, ou providência do destino, o resgate do instrumento chega em hora oportuna. Exatamente quando a capital verde e azul da Paraíba se debruça sobre a intenção (ou seria ameaça?!) do aterro de trechos das nossas praias, uma intervenção naturalmente- sem trocadilhos – de forte impacto visual e ambiental, com óbvio potencial de alterar a fisionomia da paisagem da orla marítima que conhecemos até então.

Balneário Camboriú (SC) tinha realidade local, ecológica e turística totalmente diferente da nossa, e, portanto até um cenário “propício” para a ruidosa obra, mesmo assim promoveu plebiscito e colocou nas mãos dos moradores a responsabilidade da decisão, antes da gestão municipal praticar a radical e custosa intervenção. A população de Balneário enxergou o alargamento como forçosa solução para as fortes ressacas nas avenidas e a quase invisível faixa de areia para banhistas.

Lá, a Prefeitura fez a vontade da maioria e o aterro, que aqui há quem prefira chamar de “engorda”, um generoso eufemismo. Se Balneário Camboriú é realmente a grande inspiração e modelo para as falas do prefeito Cícero Lucena, o exemplo deve então ser copiado na íntegra. Incluindo o veredito do plebiscito popular, este precedido de estudos, projeto, debates, audiência pública e aval de especialistas da área.

Será a grande oportunidade de ouvir se o pessoense surfa na onda da ideia ou se prefere aterrá-la. Se for o melhor para João Pessoa, não deve haver nenhum receio de consultar quem pagará a conta. O prefeito, que já se manifestou favorável ao plebiscito sugerido sobre o nome da capital, um assunto trivial, certamente apoiará o mesmo instrumento democrático para decidir sobre tema de relevância oceanicamente maior.

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