É natural que o pagador de empréstimo se sinta revoltado ao ver seu dinheiro abocanhado pelo emprestador, sobretudo quando obrigado a pagar juros considerados crime de agiotagem. Estranho é achar natural, às vezes nem perceber, os outros juros que paga todos os dias por empréstimos que tomou no passado, sem perceber. A população não percebe, por exemplo, o juro paga por ter maltratado a natureza antes. As inundações nas cidades é o juro pago hoje por ter ocupado com asfalto as áreas que antes permitiam drenagem das águas. As catástrofes das mudanças climáticas são o juros que a Terra cobra pelo uso dos recursos naturais no processo produtivo industrial, sobretudo a partir do século XX. Reclamamos dos juros por empréstimos, mas aceitamos outros muito maiores, cobrados por equívocos e omissões: deslizamentos de encostas é o juro pelo descuido com a ocupação do solo; a maior parte das doenças urbanas decorrem da omissão sanitária; parte das mortes pelo covid foi o juro pago pela recusa de vacina.
Não se percebe a tragédia da educação de base como juros invisíveis pelo descaso no passado. Até mesmo a universidade, que recebeu fortes investimentos entre 1992 e 2018, hoje paga elevados juros educacionais por causa da má educação de base recebida no passado por seus alunos atuais. Se o Brasil tivesse investido na educação de sua população, nossa produtividade, em 53º lugar, estaria entre as maiores do mundo e nossa renda per capita permitiria maior poupança e consumo sem necessidade de crédito: os juros visíveis seriam menores. Quarenta anos atrás, a renda per capita da Coreia do Sul era metade do Brasil, hoje a nossa é metade da deles. Eles não foram omissos e não pagam o imenso juro que pagamos por nosso déficit educacional. Não apenas, mas também por isto, há 20 anos sua taxa de juros oscila ao redor de 3.5% ao ano. Bem orientada, a educação ajudaria a criar uma mentalidade capaz de administrar o consumo dentro dos limites da renda e a poupar parte dela no presente para construir no futuro.
O juro invisível da falta de educação aumenta o juro financeiro, porque, além da baixa produtividade, propicia a mente “voraz para consumo e anoréxica para a poupança”, ponto de partida para a agiotagem, legal ou ilegal.
Há um juro visível que mobiliza toda a sociedade, mas há juros invisíveis e desprezados por todos. Destes, o mais importante e esquecido é o juro educacional, a incineração de cérebros aos quais foi negado educação. Se no passado tivéssemos cuidado da educação de base, com máxima qualidade para todos, o Brasil entenderia a triste dinâmica dos juros, visíveis e invisíveis, e provavelmente não estaria pagando os altos juros visíveis e invisíveis que pagamos aos bancos, aos morros, aos doentes, às vítimas das inundações, aos analfabetos e desempregados por falta de escolaridade.
Mas, sem educação, é difícil ver o invisível e aceitar raciocínios que parecem confusos.
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