Dramaturgo singular, cronista dos bons e frasista dos melhores, o jornalista Nelson Rodrigues imortalizou um pensamento: “Toda unanimidade é burra”. Advogado de formação e animal político por instinto de sobrevivência, Adriano Galdino decidiu desafiar o conceito do polemista pernambucano.
Em 2022, a reeleição de Galdino chegou a ser considerada muito difícil. Presidente dos últimos dois biênios, acumulou prestígio, mas insatisfações também.
A projeção pessimista em 2022 virou um combustível. Galdino não só decidiu ir para a reeleição como botou na cabeça que seria protagonista de recondução sem qualquer concorrência. Muita gente, naturalmente, duvidou, menos quem o conhecia tanto quanto Hermano, um popular adversário de Pocinhos, sua terra natal.
Quando Adriano se lançou candidato à Presidência da Assembleia pela primeira vez, o dito cidadão procurou o deputado Doda de Tião, alertando que precisava falar urgentemente com Ricardo Marcelo, até então o imbatível presidente e candidato à reeleição.
Doda, óbvio, não deu importância e nem levou muito a sério. Meses depois, com Adriano eleito presidente, contra todas as projeções, Hermano reencontrou Doda e disparou: “O que eu ia dizer a Ricardo Marcelo é que ele tivesse cuidado porque eu conheço Adriano aqui de Pocinhos, e quando ele bota uma coisa na cabeça ninguém segura”!
Na sua odisseia pela reeleição com candidatura única, Adriano removeu da estrada o projeto de divisão de poder com o primeiro biênio para Branco Mendes, costurado em acordo dentro do próprio Republicanos, e desbaratou em efeito dominó os ensaios de Eduardo Carneiro (Solidariedade) e Inácio Falcão (PCdoB).
Mas, tinha uma pedra no meio do caminho da sonhada e obstinada unanimidade. O deputado Hervázio Bezerra (PSB), abatido por Adriano em embate pelo comando da Mesa em disputa passada, resistiu até as últimas forças.
Como todos os demais, Bezerra também cedeu e consagrou a reeleição unânime, homologada hoje na Assembleia pelos 36 deputados. Na resistência mesmo, ficou somente Nelson Rodrigues. Adriano tem quatro anos para derrotar a projeção negativa do famoso jornalista e provar, na exceção da regra, que há inteligência nas unanimidades. Se vivo estivesse, Hermano não duvidaria…
