Quando lá pelas 21h do dia 30 de outubro de 2022, o governador reeleito João Azevêdo (PSB) chegou ao comitê central de sua campanha, aliados e repórteres aguardavam sua primeira fala depois de uma disputa renhida vencida ao suor do segundo turno. Lá estava e vi João vencer a tentação da soberba dos vitoriosos e revanchismo dos vingativos ao fazer um pronunciamento de conciliação, conclamando a superação do embate e prometendo governar para todos. Sem olhar para o retrovisor.
O enunciado daquela noite, proclamado no calor da emoção das urnas, ganhou contorno prático na manhã ensolarada desta emblemática terça-feira. Noventa dias depois, Azevêdo se encontrou, amistosa e fraternamente, com todos os deputados estaduais e comungou café, pão e mesa com lideranças da oposição, alguns dos quais protagonistas de críticas extremadas e ataques violentos e pessoais durante o primeiro governo.
Uma cena rara numa Paraíba (mal) acostumada a transformar adversários em inimigos e a manter de pé em caráter permanente o palanque eleitoral. Uma imagem contrastante ao momento fundamentalista da política do Brasil, excitado pelo confronto e autorizado à eliminação dos oponentes. Em algumas situações, até física.
O evento paraibano tem uma venturosa simbologia. Pelo desprendimento de quem convidou (governo) e pela diplomacia de quem compareceu (oposição). Reciprocidade fundamental para a necessária construção de um ambiente de civilidade, artigo quase em extinção numa vida pública contemporânea intoxicada por radicalismos ideológicos e contaminada por interesses pessoais de poder.
Para sentar à mesma mesa, ninguém precisa aderir ao pensamento do outro, nem deixar de acreditar no que crê. É no diálogo das diferenças que se produz consensos mínimos. Este espaço, em particular, tem sido batista nesta pregação. Aliás, permitam-me o cabotinismo, essa foi a mensagem que o autor do Blog levou ao deserto da eleição de 2022, marcada pela afirmação tosca dos antagonismos.
Desde o primeiro instante do seu primeiro governo, João deu sinalizações neste sentido e pagou preço político da retaliação de aliados ortodoxos. Fez isso na prática quando restabeleceu a relação de respeito entre poderes, no resgate da relação institucional com a Universidade Estadual da Paraíba e quando negociou, sem ranço, com várias categorias do funcionalismo estadual, superando traumas quase intransponíveis, como o debate da Bolsa Desempenho da Polícia Militar.
Independente do que venha inaugurar nos próximos quatro anos, no primeiro mês João Azevêdo já realizou a maior e mais complexa obra do seu segundo governo; uma ação que não se levanta com pedra e cal, mas com o gesto institucional da distensão política, que constrói tanto quanto. Apenas com o alicerce da civilidade e o orçamento da boa vontade mútua, está entregue uma obra imaterial erguida com o ineditismo da argamassa colaborativa da oposição. O que a torna mais bonita e concreta.