Brasil Yanomami (A Crônica de Domingo) – Heron Cid
Crônicas

Brasil Yanomami (A Crônica de Domingo)

22 de janeiro de 2023 às 21h26 Por Heron Cid

Ouviram das torres de concreto um pedido de socorro, minguado do meio da selva.

As pegadas do garimpo devorando vidas, sugando penumbras do que um dia foram homens, mulheres, caciques e guerreiros.

Os dentes da fera-fome espumando diante de crianças indefesas, esquálidas, transformadas em zumbis, prontas para serem engolidas nas covas da terra mais garrida.

Quem te adora, teme a própria vida, em bosques que cheiram à morte. Em campos nenhum pouco risonhos.

Terra adorada, ouve esse brado retumbante, de índios, de pobres, de esquecidos, de desalentados. De desvalidos.

São os órfãos de uma mãe gentil. São os que vivem heróica e eternamente a esperar o penhor dessa igualdade. Um sonho de 500 anos.

Yanomamis agonizam nas brenhas amazônicas. Seus cantos já não ecoam na floresta de sua milenar existência.

Já lhes escasseiam as forças e alegria originária desse Brasil. O peso da morte é o grito da subnutrição.

Até os ipês e jatobás viram o que os olhos do poder se negaram a enxergar. Uma dor semelhante à sangria dos troncos na ‘desmatança’.

Como num relance do passado, os descobridores voltaram a condená-los ao escambo que troca oxigênio e nutrientes por mercúrio nas veias.

Na imagem chocante, já não há mais cocá, nem pinturas. Sobre a pele, só os ossos. Desnutrição contrastante com uma máquina governante cara, perdulária e obesa.

Os Yanomamis estão lá nas profundezas de Roraima. Estão bem aqui nos sinais das metrópoles. Yanomamis ambulantes de olhos fundos e mãos abanando. Vítimas da pátria amada.

Na floresta manchada de sangue e na cidade vestida de cinza padecem as tribos – de todos os brasis – todos os dias.

Por incompetência deliberada, insensibilidade desalmada ou corrupção deslavada. Entre outras mil, és tu Brasil?Salve… Salve!

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