Como todo moderado, o governador João Azevêdo (PSB) não é dado a movimentos bruscos. Fosse um piloto seria daquele tipo que administra bem o tempo, pisa o freio nas curvas e só ultrapassa com total segurança.
No primeiro e tumultuado governo, João seguiu essa receita. Só mudou quando estritamente necessário. Algumas das canetadas saíram do instinto de sobrevivência, outras para acomodações partidárias e pequenos ajustes de gestão.
Então, não surpreende a opção de Azevêdo pela conservação, até aqui, de praticamente todo o time que trabalhou com ele na primeira gestão e venceu as duras eleições de 2022.
Entre os anúncios, mudanças só pontuais e para atender a propósitos específicos, novas demandas administrativas ou compensação políticas para novos e nem tão novos aliados.
A nomeação de Rafaela Camaraense (Meio Ambiente) inaugurou essa série mais política, digamos assim, apesar de a suplente de deputada federal ser quadro reaproveitado do primeiro governo e figurar na cota pessoal de João, não de indicação deliberada do PSB, partido que, mesmo sendo dono de natural protagonismo, optou pela posição de expectador na formação do governo.
Glacial, João não se afoba, amortece as pressões políticas e vem adotando máxima cautela, sua reconhecida companhia de cabeceira. Centraliza as escolhas e impôs seu próprio timing nos anúncios, balançando o sistema nervoso central da base aliada.
Começou – só agora – a saciar o apetite do Republicanos, partido que tem projeto de poder e apresenta, sem constrangimento, a fatura do apoio atualizado no segundo turno. Em 24 horas, João confirmou três secretarias (Chefia de Governo, Representação em Brasília e Articulação Política) e duas executivas (Pesca e Economia Solidária). Outros republicanos ainda aguardam a vez.
Acaba, também, de prestigiar diretamente o deputado Damião Feliciano, dissidente do União Brasil, com a Secretaria de Articulação Municipal, a ser ocupada por Renato Feliciano, filho do casal Damião e da ex-vice-governadora Lígia Feliciano (PDT).
O que fica, porém, é a didática da continuidade. A preservação, por exemplo, de Deusdete Queiroga (Infraestrutura), Ronaldo Guerra (Gabinete) e Nonato Bandeira (Comunicação), tropa de elite e triunvirato mais observado pela base aliada, é muito simbólica. Um gesto de quem quer transmitir a mensagem de que valoriza seus escudeiros e não é de deixar soldados de guerra na estrada.
Contemplando comedidamente aliados satélites em pastas mais políticas, segurando as rédeas das secretarias estratégicas em torno de si e sem promover surpresas, o governador vai moldando a silhueta do seu escalão. Fórmula que não permite dúvidas: o segundo governo parece muito com o primeiro e tem uma cara inconfundível; a do próprio João.