Nas carícias das primeiras formigas, percebi não ser tão afeito ao ofício que pensava diversão e tantas vezes pedia a minha avó para conhecer.
Acostumado a acordar cedo para pegar 18 km de “ônibus dos estudantes” até chegar ao Colégio Monteiro Lobato, em Sousa, despertar às 5h era normal até nas férias, o tempo que poderia ser investido na arte de plantar e colher.
Dona Nuita tinha um terreno na zona rural e todo ano fazia questão de botar sua roça, com a ajuda de trabalhadores diaristas. Era muito mais pela memória da infância agrícola do que pela precisão, agora já aposentada pelo INSS como agricultora.
Penso que era uma forma dela resgatar sua própria essência e formação do campo, de se manter viva nas origens e de respirar o cheiro da terra que tanto devotava.
Brilhava seus olhos o romper dos primeiros brotos de milho e feijão. Arrancava seu sorriso as ramas de melancia e pepino aparecendo entre as valas e colorindo ainda mais o verde do milharal.
Os galhos de milho crescido, os cabelos vermelhos das bonecas cobrindo a gente e formando grandes labirintos no chão molhado. As vargens de feijão mandando recados e se anunciados maduras.
Com feições que oscilavam entre triste e esperançosa, dona Nuita ensinava sem dizer uma palavra. Nunca vi ninguém mais humilde e desprovida de ambições. Uma singeleza que até hoje me comove.
Sem saber, naquela roça ela plantou em mim a simplicidade e a boa semeadura da vida. Graças aos céus, deu tempo de ver um pouquinho da colheita em mim, o filho que não vingou agricultor e nasceu para outras terras. A quem de longe beijava e abençoava com orgulho na tela da saudade.