Ninguém melhor do que quem respira Campina Grande para falar sobre o oxigênio da cidade. Craque no jornalismo e expert em Campina, Lenildo Ferreira trouxe uma tradução muito peculiar do desfecho da novela ‘Romero Rodrigues’, o assunto que na Paraíba rivaliza em audiência com o BBB22.
Li e reli o texto. O também apresentador do ‘Além da Notícia’, da 101,1 FM, torpedeia o ávido leitor logo no título. Choca no começo e surpreende no arremate, como costumam lapidar os bons da arte. Diferente dos demais cronistas do ramo, preocupados na análise das causas e efeitos, feito o autor deste Blog, Ferreira escolheu o recorte da personalidade política de Romero.
No seu site Hora Agora, o jornalista fez uma análise quase psicológica do estilo de liderança do ex-prefeito de Campina Grande. Um olhar que identifica outro Romero, não o original, no movimento de migração do seu histórico grupo político.
Aquele Romero que entrou em cena por meses e se deixou voluntariamente seduzir e operar uma complexa e acidentada adesão foi vencido pelo Romero conservador nos atos, comedido até dizer basta, mas tentado a novos voos. O Romero de sempre voltou ao estado natural. Com todas as dores e delícias de ser quem é, conclui Lenildo de lá. Incluindo as implicações do refluxo, complemento de cá.
A seguir, o resultado da perícia de Lenildo Ferreira:
Em um minuto e meio, Romero deixou de ser Romero para voltar a ser Romero
Sim, eu sei que o título pode soar confuso. Mas, justifica-se pela confusa situação. Tão confusa que, para entender o título – e a situação – é preciso inverter a ordem da premissa.
O que significa “Romero voltar a ser Romero”? Ora, Romero é, por perfil e natureza, fleumático, demorado nas definições, ponderado em decisões, buscando sempre (de maneira incansável e até muitas vezes irritante) a conciliação geral.
Por isso, busca ouvir a todos e sopesar todas as opiniões. É avesso a mudanças severas, decisões abruptas, reviravoltas graves e profundamente comprometido e vinculado ao seu agrupamento.
Logo, a figura de um Romero costurando aliança com um adversário, que resultaria em rompimento com seu grupo histórico, não parecia Romero.
Romero mudando de lado, indo para o enfrentamento com aqueles com quem se alinha desde sempre, ainda que movido por eventual justificativa, era outro Romero.
É certo que as pessoas mudam, mas Romero, sendo Romero, não seria adepto dessa regra.
E o que, então, implica dizer que Romero, por um minuto e meio, “deixou de ser Romero”? Ora, as explicações anteriores esclarecem.
Esse é o tempo do vídeo que lançou, sem que ninguém esperasse, nessa sexta-feira. Um vídeo inusitado justamente pelas razões listadas. Não pelo conteúdo, mas por tudo que o envolve. O conteúdo é, em síntese, Romero reafirmando sua própria idiossincrasia, ficando onde sempre esteve, sendo aliado dos aliados.
Mas foi um ato aparentemente imediatista, de rompante, sem ensaio nem, tampouco, combinado com quem quer que seja. Sem maiores reflexões, sem as noites mal dormidas que em decisões outras tantas vezes deixaram Romero sem pregar os olhos.
Aparentemente, foi ao quintal, escolheu um cenário verde (contrastante com um sorriso amarelo – talvez indício dos sentimentos internos que o levaram à ação) e anunciou sua decisão.
Sem avisar a ninguém – nem aos que esperavam que Romero deixasse de ser Romero. Sem pedir opiniões. Sem avaliar ou, pelo menos, importar-se com as repercussões.
Surpreendente, definitivo, abrupto. Logo, naquele um minuto e meio, Romero deixou de ser Romero para, nos reflexos agora permanentes daquele um minuto e meio, voltar a ser – ou continuar sendo – Romero.
O Romero que todos conhecem. E, principalmente, o Romero que se conhece.
*Hora Agora