O sol já se despedia. Hora de voltar pra casa. A boca da noite se abria para receber o sereno sertanejo e anunciar a hora do anjo. A imponência e o brilho do templo atraíram como ímã para o interior daquelas paredes e colunas largas.
O carro desvia, desliza e estaciona sem muita explicação. Ao lado, a companheira apenas silencia e testemunha os gestos lentos e decididos.
Degraus acima, a imersão hipnotizante. Os bancos de madeira, os azulejos antigos e o altar silencioso. Do alto, a solene imagem do Cristo na cruz.
Já na saída flutuante, na lateral, quase escondido, um presépio. Simples e grandioso brilhava no recanto.
As ovelhas, os reis magos, o casal peregrino e o menino nascido. Tudo em miniaturas por sobre o pó de madeira. A cena mais conhecida da história penetrou os olhos do improvável visitante.
Era a bela Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, em Catolé do Rocha, mas poderia ser a de Santo Antônio, em Marizópolis, separadas por 119 km no mesmo sertão paraibano.
Era 2021, mas poderia muito bem ser uns dos anos 1990.
Em terras que não são suas o viajante voltou ao final da missa tradicional do Natal na sua terra. Ao término do rito, a fila para ver as imagens cuidadosamente replicadas entre pequenas luzes.
As badaladas do sino voltaram a ressoar alto o chamado. A roupinha de ano na pele. O jornalzinho semanal, o sermão do padre Mangueira e o coro puxado pelas irmãs para entoar os hinos daquela noite.
A noite que nunca apagou.