Acossada em 2013 pelo risco de derrota, a então presidente Dilma Rousseff teve um rasgo de sinceridade. Ficou célebre a sua frase-confissão: “Podemos fazer o diabo em eleição”.
Ali estava o que pode ser considerado o embrião do “gabinete do ódio”, a artilharia das mídias digitais usadas à época para desconstruir Aécio Neves, com o boato de que o tucano acabaria o Bolsa Família, e mutilar o crescimento de Marina Silva, com a invenção de que ela teria acordo com os banqueiros. Uma milícia aperfeiçoada, com mais profissionalismo e método, pelo bolsonarismo.
Nada disso vem mais ao caso. É só, como dizem os intelectuais, à guisa de introdução do que realmente importa: 2022.
A Dilma Roussef que foi muito bem instrumentalizada pelo PT como mártir de um golpe parlamentar, via o constitucional impeachment, ferramenta legal usada para afastar presidentes eleitos (só é possível cassar quem tem mandato!!!), já não serve mais ao script da vez.
No novo ano que se aproxima, a cúpula lulista acena para gatos e sapatos e, apesar da euforia das pesquisas, prospecta com empenho alianças com os tais “golpistas”. De Geraldo Alckmim a Gilberto Kassab, de Renan Calheiros a Rodrigo Maia.
Nesse balaio não sabe mais a presidente impichada. Até para evitar mútuos constrangimentos. No famosos jantar das ‘Prerrogativas’, em São Paulo, Dilma ficou de fora. Ninguém explicou direito, mas o ambiente dificultaria a digestão dela e de certas personalidades que deram o ar da graça.
Se antes era usada como troféu pelo PT, agora Dilma virou objeto incômodo. Daqueles que, por absoluta falta de serventia e utilidade prática, são mandados para o quartinho dos fundos. Um golpe na narrativa.