Era uma contradição histórica. Em duplo sentido: pelo tempo cronológico e pela natureza da coisa. Como uma cidade de 436 anos – a terceira capital mais antiga do Brasil – não tinha um museu para chamar de seu?
Em agosto de 2019, esse espaço fez esse questionamento em artigo reverberado à época pelo autor do Blog no programa de rádio Arapuan Verdade e em debate no Frente a Frente da TV Arapuan.
Ato contínuo, o então reitor da UEPB, Rangel Júnior, o diretor da Funjope, Maurício Burity, concordaram publicamente: a Paraíba carecia de uma ferramenta à altura de sua longeva história.
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Um professor da UFPB discordou. Citou pesquisas acadêmicas e contribuições na área de museologia e até tratou a abordagem provocativa como (pasmem!) fake news. Ignorou o óbvio vazio e confundiu experiências pontuais intramuros com a necessidade de um grande equipamento público, aberto e convidativo.
Hoje, o governador da Paraíba, João Azevedo (Cidadania), sana esse débito de quatro séculos. A sensibilidade político-administrativa materializou o Museu da Cidade de João Pessoa, que começa, enfim, a quitar um passivo da capital paraibana com sua própria desmemoriada memória.
A ferramenta traz consigo um objetivo: “Um museu atrativo para o cidadão porque contará a história e seu cotidiano”, explicou Diógenes Chaves, coordenador.
Era escandaloso e constrangedor ver por anos a casa do homem que deu nome à cidade exibindo ruínas no coração da capital, uma vitrine eloquente do descaso, retrato vivo do tamanho da importância dispensada ao tema. Sucessivos governos prometeram e tentaram restaurar o exponencial prédio. Ficaram nas boas intenções contrastadas pelo desolador abandono.
A reparação histórica integra uma política pública que vem também com o Museu da Paraíba, em via de implantação no emblemático Palácio da Redenção, por si só história viva.
As duas iniciativas corrigem o que sempre esteve tão claro como a luz do sol que nos visita primeiro. Como canta Caetano, faz parte daquilo que pode surpreender a todos “não por ser exótico”, mas “pelo fato de poder ter sempre estado oculto”, quando “terá sido o óbvio”.
Com atraso de 436 anos, João Pessoa agora terá dois grandes museus. Às vezes, em terras exóticas, alguém precisa dizer e outros precisam fazer o óbvio.