Se for dirigir, não beba; se for beber, me chame!
Adoro este slogan, pois, desde rapazola, fui sempre dado a bebidas. Não sou dos que pensam que beber faz mal à saúde. De certo modo, tudo faz mal à saúde. Faz mal e faz bem, porque todo o bem traz o mal, e todo o mal traz o bem. Tudo, portanto, é relativo na dialética espasmódica e orgástica da vida.
Mas, se sempre fui dado a bebidas, que bebidas bebo e que bebidas aconselho aos outros a beberem?
Tirante a água, só as alcoólicas me atraem e me seduzem o paladar, atendendo aos reclamos do corpo, da textura, do cheiro e do sabor, assim como atendendo aos reclamos da alma, da sensibilidade e da imaginação.
Neste viés, penso que a bebida não só relaxa os nervos estressados, acalma a psique agoniada, mas, sobretudo, atiça as luzes da fantasia e estabelece, de súbito, uma escuta poética das coisas, dos seres e do mundo. Num certo sentido, como aquele extraído das histórias de Xerazade (narrar é existir!), beber é viver!
Aprecio quatro tipos de bebida, numa ordem rigorosa e numa severa hierarquia. Esta ordem e esta hierarquia dispensam o critério de qualidade; apenas pressupõem certas circunstâncias, certas ambiências, certos contextos, entre mágicos e reais, cotidianos e miraculosos.
O conhaque, por exemplo, requer a noite, o frio e, sobremaneira, a serra, seja a de Triunfo, em Pernambuco, seja a da Borborema, na Paraíba. Melhor beber só, num bar vazio, mirando, se possível, a solidão de uma praça, suas árvores nuas e suas sombras silenciosas.
A cachaça, sendo do Brejo, sendo Rainha, com sua umidade tépida alagando os interiores orgânicos do corpo, me parece um bálsamo para a alma. É bom, num papo rápido, com um amigo querido e com tira-gosto de picado, caldo de peixe e uma frutinha qualquer. Tem de ter futebol e mulher bonita no canteiro da prosa!
Já o vinho, tinto e seco, pede comunhão, pede cama, pede mesa, pede mulher… É bebida sagrada que os deuses nos legaram para regarmos as nossas cerimônias de amor. É bebida a dois, na imponderável intimidade das alcovas. Pai, nunca afastes este cálice de mim!
Depois destas, ou melhor, antes destas, a primeira de todas, o uísque, segundo Octavio Paz, uma bebida solitária. Não requer companhia nem requer comunhão. Vejo nela beleza e dignidade. Beber uísque é cultivar a secreta aristocracia da solidão. Parafraseando um verso de Paulo Leminsk, diria que, bebendo uísque, a dor do homem se torna mais elegante.
E a cerveja? Estará se perguntando o leitor que a bebe. Ora, beber cerveja, que me desculpem os cervejeiros, é simplesmente chafurdar na cloaca da vulgaridade e da canalhice!
MaisPB