Há uma visível distância entre os índices de intenção de voto do ex-presidente Lula e a mobilização das ruas convocadas pelo PT e esquerda, no sábado passado.
Não significa, todavia, que as pesquisas estejam erradas.
Significa, com total clareza, que o percentual favorável ao petista gira muito mais em função do desgaste do presidente Jair Bolsonaro e menos da convicção pela volta da estrela do PT.
A baixa adesão traduz, também, uma realidade: como disse o jornalista Diogo Mainardi, desde 2013 o lulismo perdeu a hegemonia das ruas e a capacidade de mobilização de antes.
Por mais paradoxal que pareça, parte do eleitor que foi de Bolsonaro em 2018 para expurgar o petismo do poder, hoje sinaliza por Lula para remover o presidente do Palácio do Planalto.
É a fatia do eleitorado que repudia Bolsonaro inclinando-se pela opção imediatamente oposta, mas – desapontada pelo presidente – não morre de amores pelos ex- e nem se situa entre os seus devotos. Digamos que seja a turma do voto crítico a Lula.
E, também, aquela porção disposta a ir para rua é muito inferior ao percentual que aparece nas pesquisas. É a que deve seguir com o petista para o que der e vier, para o tudo ou nada. Aparentemente, insuficiente para garantir que a eleição está resolvida.
Se levarmos em consideração o comparativo do poder de mobilização popular nas ruas, Bolsonaro, que vive seu pior momento político, apresenta vantagem numérica. Vantagem que, diferente de Lula e seu favoritismo, não aparece nas pesquisas de agora.
Rua, que envolve articulação e paixões, é sintoma. Pesquisa, científico retrato do momento, é termômetro.