Starters fantasminhas (Por Kubitschek Pinheiro) – Heron Cid
Crônicas

Starters fantasminhas (Por Kubitschek Pinheiro)

2 de outubro de 2021 às 11h24 Por Heron Cid

A propósito, podíamos perguntar: se Deus não dorme, como Ele consegue segurar a onda? Esquece. Deus é onipotente  e onisciente, mas não usa óculos.  Onde estão os objetos de culto?

Praticamente quase todo santo dia, eu escuto um lamento, uma pessoa me dizendo que queria que Deus lhe levasse. Levasse para onde, criatura? Minha mãe tinha essa prerrogativa, mas viveu até conhecer o mar. Depois ressuscitou nas águas que não movem moinhos.

O escritor Ascendino Leite dizia que tinha inveja das pessoas que morriam, mas só disse isso quando já estava perto dos cem anos. Naqueles instantes que transcendem prazer e reina a curtição, ninguém quer morrer.

Ascendino, como Marcos Pires adorava as mulheres. Sim, muitas não morrem, matam.  Ah, o rasto imperecível de corpos celestes, – eu disse Celeste? Sim, aqueles momentos que sempre desejamos e nos remetem para os princípios amorosos. As musas e deusas, não querem nem saber de morrer. Estão certas.

(um parênteses) Uma noite, nos anos 80, sai com uma garota linda, para lhe mostrar o nascer do sol em Tambaú. Na hora da transa, ela adormeceu. Já que estávamos nus, apenas verifiquei se ela respirava. Quando o galo cantou, eu ainda estava agarrado aos pés da Santa Cruz.

Bom, quem deseja morrer, me parece que já morreu e não sabe. É duro. Não, é mole mesmo. Memes feitos à mão?

Um amigo diz sempre que se pudesse ficaria para semente. Semente? Tá doido. Traduzindo numa mitologia profana, os objetos de culto do primeiro parágrafo, são dos deuses e deusas, que trazem a promessa dos corpos celestes, satélites levitando em torno de um núcleo originário, a imortalidade. Aí tem.

Taí uma sacada sem nexo, em se tratando da devoção pela vida, uma coisa que eu não queria jamais era ser imortal. Queria ser Zeus, mas aí são outros Acrópoles de poucas Atenas.

Outro dia tive um calafrio, tremi até os dentes, pensei: vou morrer sozinho, mas a Novalgina me salvou.

Bem sei que a vida presta, porque além da pulsão erótica, sinal vital da humana existência, que supõe entre um e outro desejo, que nada tem a ver com a vontade de morrer.

Honório, um doido sabido da minha infância quando soube que o pai dele tinha morrido, ia de casa em casa e pedia para as pessoas lessem o telegrama. Ele queria encontrar alguém que dissesse que era mentira, que seu pai não tinha morrido. Seguro morreu de velho.

Morreu de quê? Ora, de aperreio.

No princípio, e no princípio é uma viagem, estamos todos longe dos fundamentos, das aparições e adorações.

Com tantas iconologias contemporâneas, cá estou escrevendo sobre essa besteira das pessoas que vivem pedindo a Deus, que levem elas. Deus não leva ninguém. Não tem mais vaga lá. Parece que a terceira via láctea já está congestionada.

Muito tempo depois, demasiado tempo, Ascendido morreu e eu não vi uma só pessoa na beira do caixão, pedindo votos ou ex-votos. O funeral  foi na Academia Paraibana de Letras. Tá vendo, a tal imortalidade. Ou seja, Ascendino ainda não morreu.

Aliás, eu já tinha escrito dois textos para publicar hoje, um sobre um ET que a vizinha Tonha disse viu cair no nosso jardim, e outro sobre os motoqueiros, cruz credo! Vamos parar por aqui!

Kapetadas

1 – Fui deixar a vida me levar, mas a moça do Uber cancelou a viagem.

2 – Conta: Ou você racha, ou você quebra. É como amizade, se não for mão dupla, estanca.

3 – Som na caixa: “Deus me deu mãos de veludo/Pr’eu fazer carícia”, Chico B

MaisPB

Comentários