Polinômios, hipotenusa, raiz quadrada, números irreais, derivadas e outro montão de categorias matemáticas nunca me meteram medo, nem quando lecionei a disciplina no antigo científico no tradicional Colégio de Macedo, em Sousa, nos meus verdes anos de existência.
Mas, agora, depois de tantos anos, surgido do nada, em momento tão impróprio, logo agora, quando eu reconcilio minha essência sexagenária com a literatura, um bicho feio, saído das profundezas do inferno, aterroriza a mim e a todos os colegas escritores. Não só a nós, esses heróis de mil faces e disfarces, mas também a outras pessoas que querem vender algo, até mesmo suas dancinhas pela Internet.
O nome do bicho é algoritmo. Desde o Big Bang, passando pelo governo de Bolsonaro, nada pode competir com o dito cujo em maledicências e vontade de dominar. Caprichoso, maledicente, volúvel, arrogante, faminto, belicoso, plástico e, sei não, se der na telha, fica careca, só para imitar o velho da Havan.
E tem mais! Há algoritmo para todos os gostos e redes sociais, cada um deles com suas formas autopoiéticas de regeneração e degeneração. Tem deles que, às escondidas, perscrutam a gente, não por preocupação com nossa humanidade, mas para nos encher de propaganda sobre algum tipo de produto: compre batom, compre batom, compre batom!
Neles, está embutida a função “Posto Ypiranga”. Sim, eles se preocupam com a economia do país. Dia desses, só porque eu contava uma história para minha neta começando pela famosa frase “Entrei por uma perna de pinto e saí por uma perna de pato”, o bicho ensandeceu de vez: colocou à minha frente, na tela do meu notebook, mil propagandas de pés de galinha, dizendo ser baratinho o quilo para esse tempo de pandemia institucional. Até pé de galinha verde e amarelo o bicho me insinuou. Só espero que eles não comecem a ameaçar o STF. Cruz credo!
Pois é! Todos estão dominados. Há quem não durma mais, buscando saber quais os últimos protocolos que os nerds do vale do silício inventaram, para forçar as pessoas a comerem bosta, para ver se ganham alguma curtição ou seguidores nas suas redes sociais.
Deus do céu! Ser escritor é padecer no paraíso.
MaisPB