Queiram ou não queiram, as ruas desse Brasil de 2021 só atendem ao chamado do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula.
Não coincidentemente, os dois polos da luta política que divide o país na base do “nós e eles” e condena a Nação a um debate muito focado em pessoas e quase nada em projetos.
A baixíssima presença de público nas manifestações de domingo – convocadas pelos movimentos que rejeitam tanto um quanto outro extremo da batalha – são um sintoma. Nenhuma surpresa, entretanto.
O brasileiro médio, desprovido de paixões políticas, está cansado dessa gangorra, protesto sim, protesto não.
Segmento expressivo da sociedade vive processo de fadiga e pouco apetite de sair de casa em plena pandemia (a maior contradição retórica da polarização) para segurar bandeiras e se nivelar aos cordões da radicalização.
O fiasco do público chamado pelo MBL, sem o aval da esquerda e do PT, até porque eram alvos, não significa inexistência de gente disposta a votar sem a camisa de força da polarização.
Também não é atestado de inviabilidade da terceira via. É um indício de que essa faixa do eleitor está em fase de observação e que até agora não se sente suficientemente representada ou seduzida pelos nomes ou discursos que estão na pista.
Por razões presumidas, Bolsonaro e Lula são os grandes donos das ruas. Inclusive, porque eles têm maior envolvimento com as massas, falam a língua delas e inoculam a fórmula da confrontação, quase irresistível nessa pós-modernidade que se comunica pelo idioma do grito.
Muita não foram e nem irão às ruas por absoluta ausência de motivação. Outros por excesso de sanidade. Enquanto isso, Lula e Bolsonaro se alternam na ocupação das avenidas cheias de gente e vazias de futuro.