Já que o preço do feijão está nas alturas, fiquei matutando acerca da tão comentada alternativa para substituí-lo nos pratos das famílias brasileiras. Fuzil. Claro que ninguém vai sair por aí comendo fuzil. A arma é feita de aço, suponho, daí que os efeitos colaterais desse tipo de comilança são devastadores: no mínimo, cuspir bala, a não ser… a não ser que se sigam, à risca, outras sugestões mais degustáveis, devidamente adaptadas ao momento em que vivemos: sopa de fuzil servida com jiló em calda.
Não sei o porquê do espanto. Quem já não ouviu falar da estória da sopa de pedra? Pois bem, a de fuzil guarda semelhança em tudo, com a vantagem de que a receita porta carimbo oficial e é regada de lágrimas provenientes do remorso da nossa brava gente, que, de repente, descobriu que era burra de doer.
Fuzil acima de tudo com jiló em calda, o nome da receita. Altíssima culinária, agora à disposição de todos. Um fuzil Ak-47, duas colheres de mel élfico, três ou quatro batatas da Venezuela, um quilo de melão yubari king, quatro colheres de vinagre balsâmico, duzentos gramas de fungo Caterpillar, quinhentos gramas de caviar Almas Beluga. Sal e pimenta a gosto e jiló, é claro.
Unte o rifle com sebo de bode pai de chiqueiro castrado, misture tudo, deixe descansar por seis dias: três na casa de algum pastor e mais três em alguma guarnição militar. Ao cabo, leve a uma grelha fumegante por dois segundos. Em seguida, conduza toda a mistura ao forno em fogo brando, mais dois segundos na casa de algum deputado do centrão. Sirva com raspa de pau de goiabeira ungido. Serve onze pessoas, de menino barrigudo e remelento a ministros de Estado.
Mas, se você, por um desses paradoxos da lógica ou pelas razões não compreendidas pelos poderes do Estado, for pobre, de direita, ou for um dos 14,8 milhões de desempregados e não puder comprar os ingredientes, cuspa bala, pô!
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