Uma pessoa é muita coisa ao mesmo tempo. O mindinho e seu vizinho.
Pulsação a pulsação.
E ainda dizem que a gente não aguenta o rojão…
Movemo-nos numa manhã tropical. Meus passos rápidos chegam tarde, a madrugada já foi desvirginada, na tara dos que estão voltando da Ponta do Cabo Branco. Caminhar no mar é um privilégio.
Sobrevivemos, e nem acreditamos nessa impossibilidade. Muitos ainda caminham sem máscaras, no cenário do mar. Faz tempo.
Os pormenores, os detalhes de tal cenário escasseiam, mas não é sobre isso que eu quero falar. Talvez, da geografia exposta nos acenos. Pessoas já falam meu nome alto, apesar da máscara, dos óculos escuros e o boné. Outro dia um me perguntou quem eu era? Eu sou um velho.
A minha leitura é a de que este cenário da praia do Cabo Branco (foto) é libertador, um lugar, cujo pano de fundo é um sol que acorda mais cedo e ilumina de prateado a beira mar.
Essa viagem é essencialmente bonita. O arrepio é uma constante. Nem todos olham para o mar.
O mar é a única confirmação que somos cosmopolitas, esse mar que se agiganta na gente, dentro de quem sobreviveu todos os dias a agonia nessa busca desesperada por notícias boas.
Estamos na dimensão física da sua beleza.
Existência. Existirmos.
As evidências mostram de que tudo começa… e acaba. É a vida que é real com ou sem viés e, paradoxalmente, só a compreendemos quando a perdemos ou quando ficamos reduzidos a indiferença. Olá, como vai?
É preciso muita coisa para ser um ser humano completo.
Eu até digo uma coisa e outra, mostro caminhos ou apenas sugiro.
Conhecer as fotografias de Thereza Eugênia com os melhores artistas brasileiros que envelheceram, já é uma moldura, uma prova de que a fotografia não envelhece, a partir da qual a gente viaja.
Conhecer a obra de Sebastião Salgado, os índios, os negros, a Amazônia e o mundo todo, já é um passo para se sentir completo. Eu apenas sugiro.
Estou dentro de um romance que esbarra no miolo e ao mesmo tempo estão lá meus miolos. Como diz David Lodge, mais do que os tratados ou os compêndios de história, os romances são o melhor reflexo do tempo em que ultrapassamos. Se ultrapassamos é porque envelhecemos.
Acredito que a redenção está nos livros. Nem todas as civilizações são iguais, mas todas, sem exceção, recontam suas histórias.
Sou um homem de sorte? I’m not quite myself today.
Há dias em que faço minha a frase de alguém, porque não há outra forma de dizer as coisas que sou.
Kapetadas
1 – Embora o futuro chegue diariamente, encontra sempre metade do planeta dormindo.
2 – Eu acho que homem não aguentava 1 dia sendo mulher.
3 – Som na caixa: “E o sol quarando nossas roupas no varal”, Alceu Valença.
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