Da memória de infância trago uma lembrança sempre presente. De quando levado por minha mãe, dona Marizete, passava férias no Sítio Cabra Assada, zona rural de São João do Rio do Peixe, duas cenas: o som do rádio ligado nas emissoras de Cajazeiras e o cheiro do arroz vermelho de leite na panela de barro.
Na mesa, o prato fumegando. No rádio, o plangente dedilhado da viola dos cantadores e repentistas. Antes das badaladas do meio dia, os dedos tocavam as cordas e as melodias entravam nas casas e corações dos sertões e rincões até a distância alcançada pelas ondas sonoras de AM.
Mais crescido, era o jornalismo padrão, as vinhetas, as transmissões esportivas da Rádio Difusora que atiçavam minhas atenções. Alto Piranhas e Difusora, as duas emissoras mais imponentes da região, faziam uma concorrência leal e saudável, daquelas que ninguém perde e o ouvinte ganha.
De um lado, Josival Pereira e Fernando Caldeira. Do outro, Gutemberg Cardoso e Marcos Rodrigues. No centro, os grandes debates.
Aos domingos, a disputa maior no “Perpetão” era entre Arnaldo Lima e Francisco Alves Tatico, meu padrinho de batismo. Competição emocionante para definir o campeão das narrações dos jogos do Atlético.
Profissional parido do microfone para todas as mídias, hoje entendo, vivo e aprecio essa gene da faculdade viva, inventiva e exportadora de Cajazeiras, uma senhora de 158 anos, fruto bendito de um povo irrequieto, amante das letras, da cultura e do cultivo e preservação das tradições. O rádio é sua expressão maior.