A aventura sumiu (Por Kubitschek Pinheiro) – Heron Cid
Crônicas

A aventura sumiu (Por Kubitschek Pinheiro)

22 de agosto de 2021 às 06h01 Por Heron Cid

Veio um imêio de alguém. Eu já tinha perguntado se na vida de tal pessoa havia sexo, aventura e rock and roll em quantidade suficiente. Não que eu tenha sido deselegante. Jamais.

Era uma pergunta sem peso, pelo menos, sem aquele peso que a resposta assume. A verdade atacou-me de repente e fiquei preso na frase: “K, querido, a aventura sumiu”.

Não há aventura que dure. É preciso uma logística para debelar o que se anuncia. Isso da pessoa dizer que a aventura sumiu, pode ser tardio. Talvez, nuances da pandemia.

A mulher que mandou o imêio tem 60 anos. Mas eu não entendi porque ela deixou vazar que a aventura sumiu.

Não há grande metafísica nisto.

Não existem pessoas totalmente desventuradas. Simplesmente, envelhece-se porque é chegada a hora. Ficamos mais velhos porque ficamos mais experientes? Nem sempre, mas creio, ainda hoje, que é a única sabedoria que vale a pena destacar: aprender a ficar velho, a envelhecer, aprender a viver o tempo que nos resta.

Existem muitas pessoas difíceis de convivência e eu fico pensando em como lidar com elas. Tem jeito para tudo, menos para a morte. A morte resolve outras coisas, a depender da situação.

Penso que um ponto bom para enfrentar as relações complicadas, é um ponto médio entre a aceitação e uma certa resistência – é preciso agir. Ou se aventurar.

Ficar no nó entre essas duas forças, a que permanece e a que perturba, sem acatar a inércia, nem o combate remido, não tem quem aguente.

Não digo nada, mas estou tentando e só isso já é uma aventura. Carregar o peso da vida no corpo, na alma e no coração, não é para qualquer um.

Eu li que na década de 40, Marguerite Duras (1914-1996) escritora, cineasta e dramaturga francesa, conhecida como “A Imperatriz das Letras” fazia parte da resistência francesa e seu marido havia sido capturado pela Gestapo. Ela, por uma estranha espécie de solidariedade, mas também por total impossibilidade, quase não comia e estava como um deportado, mas não deixou de se aventurar

Assustadoramente, um oficial nazista com veleidades artísticas se encantou por Marguerite (foto) e a convidava para sair diariamente. Preocupava-se com seu estado de saúde e a levava a restaurantes clandestinos onde se servia carne fresca, vinhos, batatas e leite. Mas ela não estava faminta, porém atenta.

Sentiu-se forte o suficiente para enfrentar o inimigo. Marguerite Duras não estacou. A senhora M Duras, dizem, com muito prazer, matou o nazista. Caramba, que mulher!

Tá vendo, para tudo tem um jeito, só não podemos é deixar de nos aventurar.

Kapetadas

1 – Quem acha que nada vale a pena é porque ainda não se entregou a um travesseiro de plumas.
2 – Eu explico uma vez. Explico pacientemente pela segunda vez. Na terceira vez, bate a preguiça e apelo para o recurso “arquivar conversa”.
3 – Som na caixa: “Sou o seu bezerro gritando mamãe”, Caetano Veloso

MaisPB

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