Ninguém, fora os fanáticos, é suficientemente inocente para acreditar que o presidente queria a aprovação do voto impresso.
O que Bolsonaro queria, e conseguiu, era o discurso. Uma narrativa que lhe permitisse tensionar a eleição futura e, se fosse o caso, questioná-la.
Quando tomou para si o debate do “voto auditável”, o presidente fez uma escolha estratégica.
Se a PEC,com remotas chances de prosperar, passasse ele perdesse na urna, o resultado seria alvo de inúmeros pedidos de recontagem e questionamento. Pelo menos, entre seus arraigados admiradores.
Até hoje, no Estados Unidos, há um contingente de adeptos de Trump convictos de que a eleição foi roubada.
Com o insucesso na Câmara, em meio a intenso debate, Bolsonaro também colheu em seu favor o que quer. Na hipótese de resultado desfavorável, ficará, entre seu exército, a fumaça de fraude, de golpe, de conspiração.
A tese de Bolsonaro perdeu no voto, mas o presidente obteve uma vitória política para sua narrativa tão peculiar. É disso que ele se alimenta.