Quando a Microsoft, empresa de tecnologia fundada por Bill Gates, lançou o sistema operacional Windows, o batizou assim por causa das múltiplas janelas que a interface permitia abrir. Em um longínquo 1993, o sistema operacional inovava ao exibir informações e receber respostas dos usuários em múltiplas janelas. Talvez, com muita ambição, a equipe profissional responsável por sua execução acreditasse que o Windows seria o sistema operacional mais usado do mundo. Contudo, é improvável que alguém tivesse imaginado que o Microsoft Windows fosse, em 2021, o principal recurso para muitas pessoas olharem além das suas janelas.
Com o distanciamento social imposto pela Covid-19, quase todas as atividades passaram a ser feitas de forma remota. Muitas delas, utilizando um Windows com plataforma. Embora muitas vezes surgisse uma vontade desesperadora de fugir, não havia pó de pirlimpimpim, especiaria mágica utilizada pela boneca Emília, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, que pudesse transportar pessoas de um lugar para o outro com a segurança desejada.
Regularmente, me pego pensando nas janelas que se fecharam por causa das adaptações sofridas. Pela janela do meu quarto, esse ano, não vi o carnaval passar. Pelas janelas de uma sala de aula, ambiente em que não piso desde março de 2020, não vi mais saltar nenhum felino perdido. Pela janela de um edifício comercial que frequentava, lembro que, se olhasse para baixo, podia vislumbrar ipês amarelos. Se olhassem para a frente, os executivos que ali trabalhavam viriam a tela dos seus computadores. Se olhassem para baixo, porém, havia a natureza. Sorte tinha o cronista Rubem Alves, que, possivelmente, durante seu trabalho, ao olhar para baixo, encontrava um livro; ao olhar para cima, se deparava com a aquarela de ipês amarelos sob o céu azul.
Com trabalho e aulas virtuais, se olho para a frente, só encontro telas, nos mais variados formatos: notebook, celular, tablet, TV. Sair do trabalho para ir ao cinema virou um abrir e fechar abas: o trânsito foi substituído pelo clique no botão “X” da caixa de e-mail e a abertura do aplicativo da Netflix. Contudo, em home office, se olho para o lado, encontro uma estante de livros. O mundo inteiro se abre. É sobre tal estante, principalmente, que desejo escrever nesta coluna.
Sejam todos bem-vindos.
MaisPB