Quem conhece Brasília, por convivência ou por observação, sabe: os cargos e indicações em ministérios são as joias da coroa disputadas por partidos aliados do inquilino do poder na vez.
Legendas indicam apadrinhados. E, ressalvadas as honrosas exceções, o objetivo não é republicano. Cabem aos indicados operar a máquina que garante reeleições ou enriquecimento. Ou a duas coisas juntas.
Ao que tudo indica, Roberto Dias é uma dessas peças da engrenagem. Indicado pelo líder do governo, Ricardo Barros, chegou ao Ministério da Saúde na gestão de Luiz Mandetta, passou por Nelson Teich, Eduardo Pazuello e continuava com Marcelo Queiroga.
Aquele jabuti na árvore que ninguém ousa mexer, mesmo quando se desconfia do interesse do patrono da indicação e do papel do indicado, como parece ser o caso, a partir de informações do deputado Luís Miranda.
Bolsonaro prometeu acabar com os manjados esquemas na Esplanada. Partidários e simpatizantes do presidente se jactavam até então da não existência de nenhum escândalo de corrupção.
O caso Covaxi e agora a denúncia de suposta cobrança de propina de U$ 1 dólar por dose da vacina Astrazeneca e a consequente demissão de Roberto Dias, após o “estouro da boiada”, não atinge direta e pessoalmente o presidente da República, mas certa em cheio a principal retórica presidencial: o discurso anticorrupção, o coração que mantém o bolsonarismo de pé, apesar dos pesares.
Ferido na emblemática promessa de campanha e repetido mantra de gestão, o governo sangra no seu órgão vital. Passou à sala dos pacientes graves.