Só depois de ler e ouvir as manifestações da secretária Lídia Moura (PMN), da deputada Pollyanna Dutra (PSB) e da senadora Simone Tebet (MDB), dei-me realmente conta da mensagem machista por trás do discurso preconceituoso do deputado Wallber Virgolino (Patriotas) contra a senadora Daniella Ribeiro (PP).
Numa sociedade machista como a nossa, os homens precisam ser alertados todo tempo para um comportamento que, de tão estruturado, passa ao largo até do jornalismo, um meio que tem por dever o olhar sempre atento a tudo aquilo que reforce preconceitos de gênero.
Fiquei ainda mais convencido quando a despeito de se esquivar do deslize, Wallber reincidiu, ainda mais enfaticamente, para tentar rebater as críticas de outras mulheres, igualmente empoderadas, donas do seus narizes e figuras públicas com reconhecida e legítima representação social.
Para refutar a secretária Lídia Moura, jornalista por formação e signatária de uma vida pública já longeva, Virgolino disse que ela não falava por ela, mas pelo governador João Azevêdo, de quem é hierarquicamente subordinada. Na visão deturpada do deputado, uma mulher, feminista, dirigente partidária, não pode ter opinião própria. Só pode ecoar a voz de homens, de superiores.
Para replicar a deputada Pollyana Dutra, ex-prefeita de Pombal duas vezes e cuja gestão foi premiada na Organização das Nações Unidas (ONU), Wallber classificou a sua colega de Assembleia de uma “deputada insignificante na política”.
Tudo ou pior do que antes havia dito quando desprezou o eventual debate público e político com uma senadora por considerar que somente o “tutor” (o irmão) desta merece ser ouvido ou contraditado. A senadora eleita, a mulher, a tutelada – nas palavras do parlamentar – , não.
No debate público é possível contestar, refutar, replicar e enfrentar com ideias e argumentos, sem a necessidade primitiva e atrasada da desqualificação pessoal ou do rebaixamento do adversário ou do oponente.
O que o delegado está demonstrando certa dificuldade de compreender, apesar do honorável cargo que exerce. Figura novata na cena política e jovem na idade, Wallber Virgolino ainda tem tempo de amadurecer e rever conceitos.
Se faz questão de se portar na política encarnando a figura do macho alfa, corajoso e altivo, precisa aprender com esse episódio uma lição: só é muito homem quem é suficientemente resolvido sobre o papel e valor das mulheres. As ilustres e as anônimas. E isso não é questão de política. É de vida em sociedade.