Se foi teatro para sua militância, Jair Bolsonaro é um exímio ator. Se foi só histeria e surto, ele perdeu mais uma chance de conter o primitivismo e se comportar como presidente.
Falo do destempero de Bolsonaro diante de uma pertinente pergunta de uma singela repórter de televisão.
Jair poderia ter recorrido ao seu estilo bonachão, respondido com alguma tirada bem humorada e seguia adiante.
Ninguém é obrigado a responder questionamentos, mas todos, incluindo o presidente, têm o dever de respeitar a dignidade da pessoa humana, antes mesmo do respeito ao profissional de imprensa.
A jornalista não agrediu Bolsonaro. Perguntou. E para perguntas cabem respostas ou silêncio. Nunca agressões verbais, intimidação e desvario.
A apoplexia do presidente não é coisa exclusiva contra o incômodo jornalismo. Ao tempo que liberava gases contra a repórter, mandava calar seus subordinados.
É o arroto de um estilo de vida que tanto estranhos quanto próximos precisam conviver.
Bolsonaro só tolera perguntas dos seus fãs no cercadinho ou de ativistas do bolsonarismo, que alguns, por má fé ou desinformação, chamam equivocadamente de blogueiros.
Esses, no mundo de Bolsonaro, são a imprensa livre e imparcial. Os que questionam, perguntam ou até criticam, exercício básico do ofício, são a “imprensa de merda”.
A descarga já não é novidade. É a arma do chefe da Nação sempre que contrariado ou na falta de argumento ou do humor que às vezes arrebata o presidente. Ontem, o estômago não estava bem.
O que espanta mesmo é a existência de um contingente expressivo a aplaudir as flatulências presidenciais e conferir razão a um homem que xinga e grita uma mulher no exercício de sua função, a pretexto de atacar ou reagir a um conglomerado de comunicação hostil ao seu governo.
E fez tudo isso diante do testemunho de outra mulher, a deputada Carla Zambelli, quem, em algum lugar do seu âmago feminino, deve ter sentido alguma náusea e vontade de tapar o nariz.
Mas, pedir ou esperar de Jair Bolsonaro a compostura da sala presidencial é demais. Ele sempre prefere governar do banheiro.