Ninguém pode esperar que Marcelo Queiroga abra uma frente contra o seu chefe imediato, o presidente da República. É querer de mais de um subordinado na hierarquia, especialmente um que guarda aproximação pessoal e afinidade política, como é o caso do médico em relação a Jair Bolsonaro.
Não se pode conceber, igualmente, que, a pretexto dessa afinação político-pessoal, um respeitado técnico da Medicina anule-se completamente, coadune com desvarios dos quais íntima e profissionalmente discorda, apenas para garantir a ponta de linha auxiliar de quem manda.
Queiroga começou bem no cargo. Fez tudo oposto ao seu antecessor e levou de volta a Ciência para o Ministério da Saúde. Comandou apelo ao uso de máscara, pediu ajuda da imprensa e passou a dialogar com governadores e prefeitos, sem distinção partidária. O normal, mas que – pelo status quo – virou louvável exceção.
Um avanço que ameaça virar pó pelo comportamento rebelde e desprezo aberto do governante à medidas que o próprio Queiroga, acertadamente, defende para os governados.
O ministro é quem deve dar o tom do que o governo precisa seguir na Saúde. É o óbvio. Pela expertise, conhecimento e convivência nos meios acadêmicos e sanitários, ele é quem precisa convencer o presidente das posturas as serem adotadas. Não o contrário.
Paraibano de nascimento, Marcelo Queiroga não pode ignorar uma lição peculiar da nossa terra. Desde cedo, aprendemos que há uma grande diferença entre lealdade e servidão, respeito e agachamento, subordinação e vassalagem. Coisas que não combinam com nossa natureza e histórico.